Eu sou mais um selvagem
que já nasceu aprisionado
num país dito civilizado
onde se vive só de imagem
eu sei dar nó em pingo d'água
posso andar descalço em brasa
na corda bamba sobre o fio da navalha
dando soco em ponta de faca
mas vivo refém da massa
que tem sarna mas não se coça
e sofre pela esperança
de que alguém faça alguma coisa
enquanto o vírus se alastra
e uma cidade engole a outra
com pressa de que o tempo passe
e a morte se declare às minhas palavras