Walkiria

Você dormiu pela manhã,

A noite toda

E na aurora lá estava,

Lá fora,

Sempre amargurado

Em querer ver o sol nascer

Seu cabelo sem pentear,

Desarrumado

Mais um cigarro aceso,

Pelo isqueiro velho em sua mão tremula

Hálito fedorento,

Seus olhos haviam remelas

Então o sol,

Pelo jeito viu meia luz acesa...

Ou não.

Nem importa, volta,

Adentra a casa,

Joga a guimba,

acende outro

Se assenta no sofá,

Toma a garrafa,

e mais um gole,

e goles

E pega a pensar,

a se lamentar por aquela mulher,

Não lembra se era loira,

Se morena, alta ou pequena.

Seu cérebro cozido,

Agora lhe diz que é ela:

essa com asas,

e que voa.

Cabelos verdes...

Ou toda verde

Como o gramado

Do quintal ao lado,

Do vizinho mesquinho

Que o odeia.

Ah, chá de erva cidreira, carqueja...

Café amargo ou pouco doce, geleias...

Bolo de cenoura até sorvete...

Lembra que ela lhe trazia

Saudade, né!

Sei, sabe; o nome dela era Walkiria

Mas, a amante fada verde,

É obsessiva,

Lhe deixa inerte,

É ardilosa.

Ela quer exterminá-lo

Quem socorro pede é a alma tolhida

- Venha luz bonita, infinita

Venha me novamente Walkiria

quebrar a estatua

Pela boca que se abre lamuriosa...