Zapping

Publicado por: Manuel Marques
Data: 11/12/2007
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Autoria e voz: Manuel Marques no youtube: http://www.youtube.com/watch?v=6D7v-P9DTbY
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Zapping

I

Lamber as feridas da vida assim:

olhos fixos no Doutor das idiossincrasias

seres de objecto em abjecta contemplação

um e outro bocejo apenas o adiam

o entediam no sossego do sofá gasto

das horas e desoras de consumo

II

Ligar o aparelho lá no fundo da sala

uma refeição rápida em desequilibrio

acentuado na rotineira programação

nem na secção da comédia há a possibilidade

a necessária e oportuna leviandade

de um mero e ocasional sorriso

apenas um virar de página

sem que o mundo se desgaste.

III

O canal da memória infame

das almas empedernidas

dos assassinos sem dó

voltou e assentou arraiais

nefasta conclusão de impotência

sem sequer saber por onde estão

IV

O senhor das notícias regressa amiúde

miúdos desfigurados de essência

rude sensação de infância perdida

numa notícia de cruel trabalho infantil

que deixou de o ser

sem antever, retroceder

em amantizada posse de intromissão

V

Virús de impaciência alastra

crescendo de violência efectivado

na angústia daquele ser despreocupado

no desgovernado mundo de incoerências

baladas sem tom

balas no âmago do ser

só para destruir vidas

VI

Chega o homem do gás a casa

a mulher perfuma-se

mas tudo não passa de conversa

e o marido apenas vira a mesa do avesso

porque o bife tinha sal a mais

e o sexo já não é o que era

VII

O concurso dos amores desencontrados

porque não havia motivo natural

para encontros furtivos em paisagem real

foi preciso juntá-los

apimentar histórias banais

de baixo ventre desnudado

alguma desgraça sem graça

apenas uma lágrima

umas vias ridículas

só fazem sentido no concurso

da estupidez reencontrada

no encontro de ausências naturais

que passam no fulgor da manhã

das senhoras a engomar

de velhos que não vêem o tempo a passar

da absurda constatação

dos níveis decrépitos na confusão

na prontidão de dar um pouco de paz

um pouco de silêncio

pura ausência à inteligência

modos de agir e construir

apenas passar os dias

até à morte

ou o diabo que nos carregue!

VIII

E aquelas histórias

de insuspeitada sincronização

em silêncio deitadas

num vagão frio para a multidão

sem pudor, discrição apenas degradante

enforcada a leviandade da senhora

vadia em nem tinha onde cair

apenas história de folhetim

vendável, um assombro a propósito

IX

A meteorologia não anuncia sapos

esquilos ou crocodilos

céu em sangue

dinheiro exangue

apenas um furacão

um dilúvio regenerador

limpeza étnica e coordenada

ausência de sentidos

sentimentos ou sementes.

A meteorologia anuncia mau tempo

apesar dos sapos olharem par ao céu

e de o entardecer ensanguentar os céus!

X

Mudo por fim de canal e deixo-me ficar

um mendigo faz-me companhia

no essencial manancial de conhecimento

ressequido na necessidade

na sobrevivência e imunidade

XI

Levanto-me do sossego do sofá

de ossos alongados na árvore

num postigo ou mero alarido

da mentira sem inocência

na condescendência pela pena

do que será sempre esquecido

desguarnecido de amor!

XII

Faz-se então o silêncio

terminou o vendaval de negociações

do exercício ocular de leviandades

e o mundo há-de seguir indiferente

às suas próprias necessidades!

Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 14/03/2007
Código do texto: T412796
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