I.
Fomos ao mercado
para saque,
sob a manhã
de sol
meio-termo
– mesmo trajeto,
distintas
pessoas
II.
Certas flores eram
mais claras e mais
vivas
que as da avenida
onde
improvisaram
um ponto
de ônibus
– a vida
tingindo-se
de roxo;
e o dia,
começava
depois
da longa noite
III.
Num mesmo trajeto,
às vezes,
se percebe cousas
novas – ou que
não recebem
devida atenção:
como um gato
saltando
um portão, como tantas
árvores
em tantas casas
onde alguns
se sentam
de frente
para a rua
– e a rua passava a
ser
um universo,
um outro universo,
feito de veículos
estacionados
veículos
em movimento
pessoas
em movimento,
uma outra manhã
em movimento:
e que por estar em
movimento,
quem a observa,
só entenderá
em repouso
– como por exemplo
agora
quando me deito
e escrevo
e tento organizar
cada um
de seus
muitos
detalhes
IV.
Quanta cousa desperta
antes mesmo
do lampejo da aurora
pelo bairro:
os tratores
e seus homens;
os caminhões
e seus homens;
os botijões de gás
e seus homens;
as muitas histórias
– e por que não
as memórias? –
de seus muitos
e muitos homens
amanhecidos
antes mesmo
do amanhecer
V.
Como era grande o
bairro
e maior ainda
as pessoas
que se
cumprimentavam
e se despediam
porque a casa
os chamavam
para que
se iniciasse
uma outra
manhã:
a manhã doméstica
preenchida
de mãos
pés assuntos
sentimentos
fogões latidos
miados
olhares na janela
idas ao portão
quando se batem palmas
ou tocam campainhas
ou chamam pelo nome
próprio ou
pelo nome
que deram
por terem intimidade
e amizade:
a interação
aquece a vida
que bate
VI.
Fomos ao mercado
para saque,
sob a manhã
de sol
meio-termo
– mesmo trajeto,
tantas emoções
tantos olhares
e andares,
e o gentil sopro
de que inda
vivemos
de que inda
viveremos
de mãos dadas
inda que
os compromissos
nos separem