O RESTO É SONHO

O RESTO É SONHO

Um dia fui beija-flor,
Buscando por poesia,
No pólen sob o calor,
Na biga que lá corria.

Foi tempo de imperador,
Mas Nero também morria,
Se a roupa no quarador,
Reveste todo meu dia.

Fui celta ou um Senador,
Pois Roma já se valia,
De quem tanto conquistou,
Mas César também caía.

Trair sem ter o pudor,
Faz parte da freguesia,
De quem vende sem valor,
E o mundo então subtraía.

E a vida dos clãs foi dor,
Que a história só deprecia,
Em nome de um valor,
Pra Roma que só crescia.

E foi do povo para um reino,
Que Augusto tornou-se certo,
Tomando até os janeiros,
De quem desejasse o cetro.

E tudo foi só chacina,
Mas o meu amor tem pressa,
E um dia morreu na esquina,
A Roma que não liberta.

Somente perdura a sina,
De sermos feitos de merda,
Ou brasa que só calcina,
E estima a hidra de lerna.

Por isso lembro Pandora,
E a caixa com mil diabos,
Pois meu colibri se valora,
Na flor ou fruta em cachos.

Plantar, semeando a vida,
Nos faz ser a boa receita,
No mundo com mais guarida,
Ao tempo de cada colheita.

O resto é da eternidade,
E o sonho do que haverá,
Porque nossa mocidade,
Foi chuva pra quem virá.