VIAGEM AO INFERNO

Como se de um sonho se tratasse:

"Ouvi gritos e lamentos que fustigam toda a nossa Alma.

Não era Dia!...

Não havia Luz!...

Não havia Paz!...

Nunca é dia, nunca há luz, nunca existe paz!

Os campos são negros!...

As árvores são negras!...

As águas são negras!...

No mundo das sombras, não existem sorrisos, nem cores, nem crianças!

Até as labaredas do fogo eterno são vermelho-sombrio.

O ar está infestado de amarelos-ocre dos odores do enxofre carregado.

A terra exala morte nos cruéis tons castanho-ferrugem.

Hárpias ocrocéfalas riem com despudor, no cimo das profundas falésias.

Nas profundezas das intermináveis grutas, seres de olhos negro-morte, arrastam-se transportando pedras de enxofre e de ferro, através de tortuosos labirintos. São almas perdidas pelos abismos da loucura e da cupidez.

São vigiados por incansáveis seres sinistros, de bafos fedorentos e olhos raiados de sangue. Seres que falharam em todas as provas de regeneração. Nada nem ninguém pode escapar do seu cruel destino!

Já não existem mais lágrimas para verter.

Já não existem mais sonhos para voar.

Os dias têm a duração de eternidades.

Os dias na verdade, não são dias, são noites proteladas no tempo.

E os gritos que se ouvem perpetuam-se em coro, como música lúgubre que fustiga ainda mais as almas atormentadas.

Um dia talvez!...

Um dia, ou seja, no final de uma eternidade, cada uma dessas Almas, voltará a ter a sua oportunidade.

Será chamada às portas da Verdade e ser-lhe-á dito:

- Vais começar tudo de novo!"

E eu, não quero ouvir mais nada!

Com o coração e o ser destroçado, resta-me desejar:

- Boa sorte, irmão!

- BOA SORTE, IRMÃO!!!

E o pesadelo continua...