Outra Face

Publicado por: INEZTEVES
Data: 09/01/2009
Classificação de conteúdo: seguro

Créditos

Texto: Outra Face Edição, voz e autoria: Inezteves
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.



OUTRA FACE 

És assim: um estorvo, um estafermo,
um zero, um nada.
Talvez seja uma praga, uma sina,
um destino traçado do qual não
consegues fugir.

Teu nascimento foi um acidente.
Lembras que te disseram que a cama quebrou?
E que a parteira demorou e quase morrestes asfixiada?
Daí pra frente tua estadia tem sido um completo engano.
Tudo que queres, não consegues. Tudo o que sonhas, não realizas.
Tua vida é um desacerto.
É um espectro.
Aos doze, quase estuprada, além do medo ainda tiveste que suportar as brincadeiras de irmãs e amiguinhos de escola.
O rosto arranhado, o dedo quebrado, a roupa rasgada...
Planejaste morrer e não morreste.
Aos quinze realizaste algo bom, criaste uma pequena escola.
Planejavas ganhar algum dinheiro. O pagamento atrasou e teus sonhos foram dizimados.
Um só par de sandálias, dentes cariados a tratar, sonhos desmoronando.
Sonhar com potes de geléia e acordar apalpando as paredes.
Sabes o que é chorar nas madrugadas por não ter um copo de geléia?
Nem pra si nem para o irmãozinho?
Um, dois, três, quatro e cinqüenta anos se passam.
Ainda choras como um bebê pelos sonhos desfeitos...
Vais morrer e serás sempre a abobalhada, favelada, inconveniente, louca.
Esperas piedade?Ninguém tem piedade de uma parva.
Queres ser amada? Homens não amam mulheres que são espectros, chatas ou loucas.
Vais morrer e terás uma coroa de flores.
Achas pouco?

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INEZTEVES
Enviado por INEZTEVES em 03/01/2009
Reeditado em 11/07/2011
Código do texto: T1365452
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