Autores

Perfil

ONDE PUS SONHOS

Onde pus sonhos de amor
acordei sem tocar seu rosto.

A casa de mim está vazia
As árvores que plantei quando pus frutas na boca
foram cortadas para aquecer os que me morreram postumamente.

De suas lembranças tenho-lhes somente vultos na memória
do espírito longínquo,
como do amor onde me pus inutilmente,
da casa onde deitei sorrisos de esperas,
de minhas árvores queimadas sem me aquecer.

Meu balanço, que no galho pendia de minha árvore
no vai-e-vem onde um dia assisti o crescer dos matos,
restam pó
e do pó, moradias.

Restos.
Pó.
Restos

Das bolas de gude que lancei,
Dos cavalos que montei,
Das bicicletas que não tive e andei por dó.
Já não existem, que não em mim.

Duraram menos que o tempo de não ter-lhes posses,
o tempo de meu aprender.

Meu porto está distante.
Nasce e morre às margens do Rio Paraguai,
ladeira perdida da Corumbá da infância.

Suas pedrarias, no chão e muros,
pedras de cinza escuro, ainda estão lá.
As aguardo como homem distante.

Agora que dou-me conta que nem tudo pude,
senão a sonolência de um dia ter querido,
Perco, sem nunca ter tido.
Venho,
sem nunca ter ido.

Sono,
somente sonho à distância,
do que nunca foi ou será meu...

Daniel Viveiros
Publicado no Recanto das Letras em 21/03/2007
Código do texto: T420848