SOU
Sou só o suficiente para reconhecer minha alma merecedora do vazio de vida.
Sou mulher o suficiente para abrir a guarda e me deixar machucar.
Sou mulher o suficiente para guerrear, enfrentar o cotidiano, sapatear sobre a mesmice.
Sou mulher o suficiente para arregaçar as mangas, zerar o relógio e engatinhar, de novo, na vida.
Sou mulher suficiente para debochar do stress, para esbofetear a depressão e para costurar um ziper na boca e me calar, quando preciso.
Sou mulher o suficiente para engravidar de vida, após ter perdido a credulidade no ser humano.
Sou mulher o suficiente para me permitir, com quase meio século de vida, me amar, antes de tudo, e reverenciar a possibilidade de só viver só.
Sou mulher o suficiente para esbofetear a hipocrisia, a mentira, a traição, sem piedade, até inchar as mãos.
Sou mulher o suficiente para escancarar o sorriso, me deixar navegar por terras nunca antes pisadas, desconhecidas.
Sou mulher o suficiente para confessar tudo isto: toda a contradição, todo o paradoxo, toda incerta certeza do que sou, como sou....
