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“Senhor meu pai! Abrandai vossa alma, entendei vosso filho que o adora e que a despeito do orgulho da vossa fidalguia, sabei, somos todos por Deus constituídos de todas as cores, pois que de todas as cores nós somos”. (J. F. Lisboa – o bisavô)

O filho de fidalgo português, Joaquim Francisco Lisboa, obrigou-se embarcar num navio, abandonando o torrão natal por não suportar o peso da rejeição familiar pelo crime cometido: apaixonar-se por uma bela moura, Amina, que lhe encantou com seus olhos negros e sedutores e as lindas histórias de sua terra no Oriente. Amina teve seu nome mudado para Ana Maria, por conta da conversão ao cristianismo.
A moura deu à luz uma filha, após desembarcarem no Recife – PE, nos idos de 1870, onde estabeleceram comércio. Tiveram ainda mais dois filhos.
O velho Lisboa casou a filha com o sertanejo, José Joaquim de Carvalho, comerciante de couros e peles lá das bandas do Cariri. Tiveram cinco filhos, um deles meu pai.
Os filhos foram mandados a estudar em colégio de padres, mas, os anos que se seguiram foram difíceis. Às dificuldades econômicas impostas pela seca, regressaram todos. Meu pai, João Joaquim L. de Carvalho, especializou-se na arte e ofício de sapateiro, montou loja, oficina. Autodidata das letras escreveu fábulas, narrou-me sagas, estudou violão, fez-se músico. Casou-se com uma formosa cabocla, minha mãe, D. Maria. Vieram residir no Sertão de Pernambuco à beira do Rio São Francisco, no Encantado. Meu pai definia assim nosso lugar, meu mundo, de dias de sol sempre dourado e noites estreladas. Tiveram nove filhos, destes, eu, J. F. Lisboa, da década de 1960, o sétimo.
Dizem os poetas e os contadores de histórias de outrora que é destino do sétimo filho virar lobisomem, quando isso não acontece é porque, a esse, os deuses concedem o dom das artes, da poesia, da cantoria. “Vendo a vida pelas léguas que andei”, sinto que escapo dia-a-dia da predição primeira, me fazendo poeta de horas consignadas, pois que o tempo em badaladas de relógio me cobra o que penso trazer nas veias: a saga dos meus ancestrais de além mares e a herança dos vates desta terra.
Meu pai, que organizava saraus e cantorias em noites enluaradas do sertão, à beira da fogueira de São João, foi quem me despertou o gosto pelo universo popular da prosa, a poesia, a música e pela literatura e artes clássicas.

Pós graduado em língua portuguesa e literatura, página no site Recanto das Letras e na APOLO – Academia Poçoense de Letras. E-mail jf.lisboa@bol.com.br