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Antes de mais nada devo dizer que, para mim, esta experiência começou como sendo uma grande brincadeira. Tanto que aqui me auto-denominei "O Imorrível", estimulado que fui pelo "imexível" do então Ministro Magri. Se ele pode criar seus neologismos, por que não eu? Além do mais, tinha de respeitar o "Imortal", por ser título de uso exclusivo dos membros de alguma academia de letras (nacional ou mesmo regional).

Isto se explica porque já há algum tempo que cultivo o hábito de presentear amigos com textos que têm como matéria-prima a vivência, o testemunho de algum fato que considere relevante ou, ainda, o produto de reflexões.

Isto se dá porque a solidão, que para muitos é uma desgraça, para mim é uma grande amiga. Graças à ela aprendi a ser um homem reflexivo, um observador atento e, por isso mesmo, um escritor politemático. É o que explica meu especial apreço pelas crônicas, estilo que permite transitar por várias áreas de interesse, como nos tem provado nomes como Artur da Távola, Millor Fernandes, Lia Luft, Martha Medeiros, Luís Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabour e outros.

Lamentavelmente são poucos os especialistas que ousam abordar temas fora de suas respectivas áreas de atuação, fato que minha limitada capacidade de compreensão não consegue entender. Realmente uma pena. Com isso, fico imaginando o tanto que perdemos por não termos conhecimento de aspectos seguramente enriquecedores da vida de Miriam Leitão, Galvão Bueno, Boris Casoy, Amaury Jr, Goulart de Andrade ("Vem comigo!") e tantos outros bons viventes.

O que me angustia é o fato de a ciência médica declarar e provar que o cérebro humano é subutilizado. Felizmente há os ousados bem-sucedidos. Homens e mulheres que não reconhecem limites para sua ação criadora. Alguns exemplos: o economista, professor e diplomata canadense naturalizado norte-americano Kenneth Galbraith (John Kenneth Galbraith – 15/10/1908 – 29/04/2006) foi um deles. Além de livros de cunho técnico brindou-nos com obras como a maravilhosa A Era da Incerteza, relato evolutivo da ciência econômica, cujo teor é facilmente assimilável por qualquer ser alfabetizado; o também economista, professor, diplomata e político brasileiro Roberto Campos (Roberto de Oliveira Campos – 17/04/1917 – 09/10/2001) é outro notável exemplo (imperdíveis os regulares textos que publicava aos domingos no Globo, além de livros da qualidade de Lanterna na Popa, relato de sua trajetória política e diplomática; O Homem, a Moeda e o Tempo, verdadeiro catecismo dos universitários de Economia e Administração dos anos 60 e outros); o mundialmente conhecido brasileiro Ivo Pitanguy, médico cuja badalada competência não foi elemento inibidor para revelar o escritor que é, conquistando, inclusive, uma cadeira na prestigiada ABL. É digno de registro o que ele nos ensina através do primeiro parágrafo de seu texto Exílio Parisiense, que extraí da página que a ABL lhe dedica na internet
(http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=667&sid=238)

"EXÍLIO PARISIENSE
- Meu caro, antes de qualquer coisa, aprenda que na França o queijo é degustado com pão e vinho tinto. Saiba, além disso, que para cada queijo geralmente corresponde um vinho.

Convidado a jantar na residência do professor Marc Iselin, espero que ele, para começar, me fale sobre cirurgia. Ora, ele me dá um curso de gastronomia francesa. Estamos na sala de jantar de seu apartamento ricamente mobiliado da Rue Auguste-Vacquerie, no 16o distrito de Paris. É uma noite do fim de novembro de 1951. Faz muito frio. Tempo para nenhum brasileiro sair de casa. Marc Iselin fora buscar-me no Aeroporto de Orly, que, naquela época, se compunha de algumas edificações compridas, baixas e vetustas, às quais se chegava pela célebre RN 7, a rodovia do Midi. Tendo me levado para sua casa, meu novo mestre fala-me com ênfase sobre as diferentes regiões da França e de suas artes culinárias. Dá-me assim uma primeira lição: saber se desembaraçar das preocupações profissionais a fim de não se enclausurar em sua especialidade, e se interessar por tudo aquilo que concerne ao mundo."

Essa é a grande lição aprendida. Interesso-me por tudo aquilo que concerne ao mundo. Espero que nas páginas seguintes consiga provar a veracidade de tal declaração. Considero ainda parte integrante deste perfil, o texto Um Pit Stop no Divã.

Sou um voyeur da vida. Muito prazer.
Dom AFONSO