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"Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afeto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espalmos golfados ruivamente
São êxtases da cor que eu fremiria,
Mas a minh'alma para e não os sente!

Quero sentir. Não sei... Perco-me todo
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo para ascender ao céu,
Falta-me unção p'ra me afundar no lodo

Não sou amigo de ninguém. P'ra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!..."

COMO EU NÃO POSSUO. In: NOSSOS CLÁSSICOS: Mário de Sá-Carneiro. AGIR: Rio de Janeiro, 1965.