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Eu sou a água, ou queria ser. Mudo de recipiente, mudo de forma. Pelo rio vou me esgueirando e posso virar cachoeira a qualquer momento. Imprevisível . Quando você pensa que me prende, já escorrego, já vou pingando entre os teus dedos e você, na tonteira, nem percebe. Eu sou a água. Você vai lembrar de mim só quando estiver com sede. Enquanto pensa que me possui, já não sou mais sua, estou indo, buscando novos rios. Cuidado. Tenho fontes quase eternas de mim mesma. Eu me construo, eu me escolho. Quando a caminho, nem eu mesma sei qual curso vou tomar, vou indo, desviando das pedras, embora elas não me firam nunca, o desvio é meu charme. Não tenho cores, mas posso tê-las, tudo depende do momento. Não tenho gosto de nada, a não ser que você me tempere. Assuma a responsabilidade do meu sabor, porque é você mesmo que vai provar. Se me joga no chão e pensa que está me descartando, saiba que por onde eu passo, reconstruo, rego, vivifico. E posso fazer falta, lembra? A sede sempre vem um dia... Eu sou a água. Quando pensa que nem existo, estou me evaporando para que não me veja indo embora. Posso voltar sempre, e serei uma chuva. Ora garoa, ora tempestade, dependendo do tanto de mim que você deixou virar fumaça. Há sempre um pingo de mim no seu caminhar. Havemos de nos reencontrar muitas vezes neste percurso meu que é tão doido. Tenho angústias por você, meu doce mar. Parece que saí de você e meu sonho é voltar. Havemos de fazer parte um do outro, assim como era no princípio, quando o espírito de Deus caminhava sobre nós.