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Até antes dos sessenta o futuro não me preocupava. Todos nós temos planos, projetos, sonhos. Sempre há um tempo para realizá-los. Quando se é jovem, não há grandes urgências em suas consecuções. Agimos, procedemos, como se fossemos perenes ou quiçá eternos. Se não podemos fazer hoje ou amanhã ou na próxima semana ou no próximo mês, facilmente adiamos para o próximo ano ou lustro ou década. Depois dos sessenta revi o cronograma dos meus sonhos, desejos e projetos. Entendi que não poderia esperar muito para realizá-los. Meus horizontes estavam limitados. Já havia percorrido, certamente, mais de três quartos de minha existência. Os verdes anos do verão e da primavera já haviam passado. Estava no limiar do outono, já atingindo o inverno de minha vida. Para aqueles que  acreditam  na eternidade da alma é bem mais fácil conviver com o passar do tempo e incluir o  futuro em seus planos.
É bem verdade que no crepúsculo das tardes há tonalidades mais belas que nas madrugadas. O problema não é o que se sente, mas o tempo que nos resta para realizar os nossos sonhos. Daí  falar com insistência em ter  pressa. 
O sentimento de pressa me persegue desde  quando tornei-me sexagenário. Cheguei até a fazer sonetos que retratam o tema. Já  escrevi uma dúzia de poesias. Apesar de medíocres na forma não deixam de expressar sentimentos, meus sentimentos. Nem sempre revelam fatos ou situações ocorridas. Sem falar no fingimento presente no cotidiano de todo  bom poeta.