Memórias incompletas de um homem incompleto (revisada)

(Só se completa a vida com a chegada da morte, ou não...)

Meu nome é Mauro Sérgio Pinto Gouvêa. Mais por sonoridade do que por numerologia, assino e prefiro ser conhecido como Mauro Gouvêa.

Nasci em Juiz de Fora no dia 27 de abril de 1965 e nunca fiz meu mapa astral. Morei no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Ouro Fino, em Campinas, em Rio Claro, em Cachoeirinha (RS), mais uma vez em Juiz de Fora e, por fim, novamente em Ouro fino.

Em cada uma dessas cidades deixei um pedaço de mim e incorporei outros tantos. Nasci tantas vezes e vivi com intensidade. Fui criança, adolescente, adulto e velho.Cheguei a estar morto. Estive nos extremos de todos os sentimentos. Amor e ódio, nobreza e vilania. E por estar nos extremos não fui completo.

Cresci, amei, namorei, casei, desamei, fui pai, ou melhor, sou pai duas vezes, descasei e, por insistência ou benção, hoje sou novamente casado, desta vez é pra valer. Nunca antes senti o amor com tal impacto e intensidade.

Fiz terapia e análise com psicólogos diferentes e psiquiatras divergentes. Internei-me literalmente e figurativamente.

Em 42 anos vivi muito mais do que posso me lembrar. Embebedei-me e droguei-me. Purifiquei-me. Conheci o céu e o inferno, hoje sei que tudo não passa de purgatório.

Estive em diversas igrejas, templos e terreiros e não encontrei Deus. Procuro-O ainda e eventualmente percebo Sua sombra dobrando as esquinas.

Sou poeta. Escrevo e escrevo-me.

Acredito que a melhor defesa é a fuga.

Sei, por experiência, que quando um não quer o outro apanha.

Devagar se vai ao longe, mas perde-se muito tempo.

Quem espera nunca alcança e fica frustrado.

Em 18 de agosto de 1983 eu acreditava que:

Viver é aceitar o mundo e a morte,

é acima de tudo ser forte

e saber caminhar por todos os desvios.

Viver é ser como os rios

correndo dentro do leito

sabendo que o mar o espera

no fim de seu curso...

Hoje, depois de 23 anos, pouco mudou deste meu conceito.

Em 1985, atravessando uma fase um tanto Fernando Pessoa, no dia dos meus vinte anos escrevi um desabafo:

Quantas vezes fui ridículo

tentando ser lúbrico;

quantos vezes fui vítima

querendo ser bélico.

Quantas vezes me arrastei

por tropeçar no meu orgulho.

Quantas vezes me engasguei

com meu amor-próprio

atravessado na garganta...

Esta apresentação é uma armadilha para quem, como eu, é tão prolixo.

Dou por encerrada.

Sou tudo isto, nada disto e algo mais.

Só quero saber do que pode dar certo. Não tenho nada a perder...

O pior pesadelo é não ter sonhos.

Sou um homem maduro de 42 anos que ainda busca a ousadia da adolescência. Sou poeta, pode? Romântico ao extremo. Feliz é minha mulher...