Momentos Eternos

Me sinto apertado, mas quente... às vezes me assusto, mas depois vem a ternura daquele toque.

Quanta luz ofuscante, e o arrebatamento, o frio, porque estou sofrendo dessa forma? Que bom ter essas mãos que me protegem, esse néctar que me faz ter força. Com que vigor sugo essa vida.

Lembro-me da inocência envolta por mimos e dificuldades. Sou um pequeno Rei. Majestoso dentre meus súditos. Nem todos suportam o amor que sentem por mim.

Agora sou frágil, num crescente torpor, vejo meu corpo tenro definhar. Não fosse aquela mão, aquele doce beijo, o colo que me conforta e protege. Ah a minha fé! Quanta fé eu tinha... me lembro andando de joelhos em nome de minha fé infantil.

Já não sou mais decrépito, agora sou forte, arredio, explosivo e edificante. Minha mente imaginativa cria e recria mundos ao extremo. Batalhas colossais são travadas nessa inquietude de meu ser. Formigas... eternas rivais num campo de batalha que travo silenciosamente. Meu exército nunca as dizima, mas as combate. E vejo meu martelo extermina-las. Não, não... não as extermino. Sempre vem outras na trilha.

Páro de guerrea-las. Elas são mais fortes que eu. Me ensinam que devo continuar sempre.

Continuo forte, mas agora sou insuportavelmente arrogante. Sou invencível. Me vicio facilmente. Inebriado em minhas conquistas fúteis, esqueço-me da razão dos meus intentos. Não importa, pois amanhã terei outra razão.

Sou amado, odiado. Amo? Não sei, acho que nunca amei. Me apaixonei. Não devia. Agora sou carnal. Mas não sei o que fazer. Vou seguindo em frente, perdendo o fôlego em minhas leituras. Penso, penso, penso... não páro de pensar.

Minha respiração não acompanha o pensar, uma força malígna toma os pensamentos, corrói, me destrona e desatina. Continuo mais carnal que nunca. Sou egoísta? Talvez. Acho que agora já não sou mais inocente. Não...acho que nunca fui, nem mesmo quando a aurora de minha vida me fez revelar ao mundo.

Sei o porquê. Violento mundo que me acolheu, que me degladiou. Não queria essa exposição. Não queria ter vindo.

Nunca fui tão ligado ao mundo como agora, além de confiante, sou prático, temido, amante, pródigo.

Enterro minha metade. Me desatino e desaprovo o viver. Pra que serve tudo isso?

Não viu sua semente vindoura nascer. Será ele a menina que agora renasce? Me enche de alegria e amor. Minha melhor obra. Meu amanhã.

Sepulto meu amor. Porque não sabia que ela sempre fora meu amor? Agora sou órfão. Execrável. Perdido. Não quero viver.

Sou visceral. Me falta o amor. Tenho o amor, mas não sei como valorizá-lo. Por que sou assim?

Depois... sou criatura somente. porque a vida é desinteressante?

Sou pessoa comum, variável, que sofre. Como, defeco, morro. Não... não consigo morrer. Nego minha mediunidade. Me nego a humanidade.

Ainda sou carnal, não devo. Deixarei de ser.

Agora, sou criatura comum. Objeto usual do próximo. Sou amado e não sei dar o devido valor. Sou ingrato. Sou prático ainda, mas estou melhorado. Sou sábio mas não tenho fé. Não sou mais criança.

Quero chegar, objetivar. Já não tenho mais o vigor de outrora. Definho mas não tanto. Tenho o poder ainda, mas quem me dá esse poder? Ele não vem de mim. Talvez de minhas obrigações.

Não espero vencer, mas sim cumprir etapas, mesmo que enfadonhas. Já não importa. Meus amores me bastam. Sei agora que amo.

William Marcos
Enviado por William Marcos em 04/10/2010
Código do texto: T2538109