Biografia da Geógrafa NILDE LAGO PINHEIRO

Nilde Lago Pinheiro foi a terceira mulher a ocupar a presidência do IBAMA, tornando-se referência em competência e responsabilidade, superando em muitos resultados a maioria dos homens.

Ela nasceu em 1º de fevereiro de 1946, no bairro da Pompéia, cidade de São Paulo, filha de Irene Lago Pinheiro e Peregrino Pinheiro. É a caçula de três irmãs: Neyde, Neusa e Nilde.

Sua família paterna é oriunda do interior do Estado e sua mãe descendente de espanhóis que vieram ao Brasil no final do Século 19. Mesmo com origens familiares diferentes, ambos nasceram no mesmo ano, em 1907, e na juventude se conheceram e casaram. Sua mãe comerciante de um Empório, e seu pai servidor público do Instituto Brasileiro do Café (IBC), que era uma Autarquia federal responsável pelas políticas de incentivo à produção cafeeira no Brasil. Hoje muitas pessoas não devem saber, mas algumas décadas atrás o IBC era bastante conhecido, inclusive sua logomarca ficava estampada na camisa da seleção brasileira. O IBC foi um dos primeiros patrocinadores a estampar sua marca nas partidas de futebol No IBC seu pai serviu em Santos, litoral paulista, e Paranaguá, no Estado do Paraná.

Em 1967, Nilde começou a cursar Geografia na PUC/SP e ao final de 1968 conseguiu transferência para a Universidade de São Paulo (USP), tendo o privilégio de aprender com ilustres professores, tais como: Aziz Ab'Saber, Maria Adélia Aparecida de Souza, Carlos Augusto Figueiredo Monteiro, Maria Regina Sader, Rosa Ester Rossini e outros notáveis.

Quando estava na faculdade, se envolveu com o movimento estudantil, por intermédio da Ação Popular (AP) e da Aliança Libertadora Nacional (ALN), organizações de esquerda que lutaram bravamente contra a Ditadura Militar em prol da redemocratização.

Atualmente, Nilde pode falar abertamente, mas naquele período os revolucionários agiam na clandestinidade. Muitos de seus companheiros de movimento foram duramente reprimidos; vários militantes e dirigentes foram presos, torturados e mortos. Fatos de um passado distante, mas que deixaram marcas profundas que perduram até o presente.

No final de agosto de 1970, fez sua primeira viagem internacional. Foi para a Argentina, fincando por poucos dias, e viajando em seguida para o Chile, onde presenciou os movimentos da Unidade Popular (UP), formada por coalizão partidária de esquerda que elegeu, em 4 de setembro, o Médico Salvador Allende como presidente chileno. Ao retornar para o Brasil, Nilde sentiu um grande aperto no peito. Ela sentiu uma profunda tristeza ao retornar para sua terra natal, que estava sob o duro jugo do General Médici, após ter vivido aquele momento histórico, que ela lembra cheia de emoção como um “banho de democracia chilena”.

Durante seu curso na faculdade trabalhou como professora de Geografia em escolas públicas e cursinhos pré-vestibulares, sempre no período noturno. Etapa profissional que lhe valeu bastante, servindo para vivenciar o importante papel de educadora.

Em 1971, concluiu sua graduação e já no ano seguinte começou a trabalhar na Prefeitura de São Paulo, no programa de Habitação Social da Secretaria Municipal do Bem-Estar Social. Era uma das responsáveis pela análise de áreas aptas a receber os projetos habitacionais, voltados para famílias de baixa renda e moradoras de favelas, cortiços e áreas de risco.

Em meados de 1973, por orientação da Prof.ª Maria Adélia de Souza, foi cursar uma pós-graduação na Universidade de Paris I / Sorbonne. Apresentou e defendeu tese sobre a Organização Espacial da Periferia de São Paulo. Seu orientador era o Prof. Michel Rochefort, profundo conhecedor da realidade brasileira.

Em março de 1975, ingressou no serviço público federal como Técnica de Planejamento e Pesquisa do IPEA (Instituto Brasileiro de Pesquisa Aplicada), indo trabalhar em Brasília. Até aquela data, a sede do IPEA, e de muitos outros órgãos, ainda ficava no Rio de Janeiro. Mas, com o passar dos anos, Brasília foi se consolidando e as sedes das entidades nacionais se transferiram definitivamente para o Planalto Central.

Quando Nilde Pinheiro chegou à capital, as condições de vida eram bastante difíceis, especialmente para quem vinha de um centro urbano consolidado, como São Paulo. Brasília ainda era uma cidade em construção e sua pobreza cultural era evidente. Uma tristeza!

Para atrair profissionais qualificados, o governo federal proporcionava uma série de benefícios, como moradia, 14º salário, entre outras vantagens. Logo que chegou, Nilde foi morar na 302 Sul , como sublocatária do IPEA

Em 1976, mudou-se novamente para a França. Dessa vez, foi cursar Doutorado na Universidade de Paris I /Sorbonne. Mas, por força do destino teve que retornar às pressas para o Brasil no final de 1977, pois sua mãe estava bastante enferma. No ano seguinte, teve que enfrentar uma dura realidade com a perda de sua mãe, e seis meses depois o falecimento de seu pai.

Diante de tal situação, não teve condições de prosseguir em seu Doutorado na Europa. Ela retornou para trabalhar no IPEA em Brasília, permanecendo até o ano seguinte, quando conseguiu sua transferência para São Paulo.

No final de 1989, o então presidente José Sarney, como um de seus últimos atos, cancelou todos os comissionamentos, determinando que todos servidores voltassem aos seus locais de origem. Isso levou a uma grande instabilidade dentro da máquina pública, com milhares de servidores tendo que mudar inesperadamente de um lugar para outro.

Nessa época, (1990) José Lutzemberg assumiu a Secretaria Especial de Meio Ambiente da Presidência da República (SEMAM/PR), a convite do presidente Fernando Collor de Melo, com objetivo de preparar o país para a Conferência das Nações Unidas que se realizaria dois anos depois no Rio de Janeiro. Lutzemberg indicou Tânia Maria Tonelli Munhoz para assumir a Presidência do IBAMA.

Nilde Pinheiro e muitos servidores estavam vivendo uma situação difícil, pelo retorno forçado à Brasília. Assim, solicitou à Tania Munhoz transferência para a SUPES de São Paulo com o intuito de acompanhar as atividades voltadas para a implantação do segmento Mata Atlântica do PNMA/BIRD no Estado de São Paulo.

Em 1991, foi após a edição da Lei Federal que equalizava toda a administração inserida em fundações, autarquias e institutos, incluindo todos os servidores e permitindo acesso às diferentes carreiras do serviço público federal, Nilde Pinheiro foi removida para o IBAMA e lá seguiu até sua aposentadoria.

Quando Tânia Munhoz deixou o cargo, o biólogo Eduardo de Souza Martins assumiu seu lugar. Depois de alguns contatos, propôs a Nilde assumir o cargo de Superintendente em São Paulo, mas ela se recusou por não pertencer ainda ao quadro funcional do IBAMA. Após a sua remoção para o IBAMA, aceitou o convite de Eduardo Martins.

Assim, em fevereiro de 1992, Nilde Lago Pinheiro assumiu o cargo de Superintendente do IBAMA no Estado de São Paulo, promovendo inúmeras modificações de ordem administrativa, legal e técnica. Algumas iniciativas provocaram espanto em Brasília, principalmente as concernentes à reposição florestal e controle da pesca da manjuba e sardinha. A arrecadação saltou para o primeiro lugar no Brasil, mas isso não impediu que se realizassem convênios e ajustes com outros órgãos de governo ou não.

Por conta de bons resultados, Nilde e sua equipe ganharam prêmios pelo trabalho de reposição florestal e controle da pesca da sardinha e da manjuba, consignados pela ENAP (Escola Superior de Administração Pública) que projetou seu nome em nível nacional fortalecendo a imagem de uma gestora competente e fiel aos princípios do Instituto.

Ao final de 1993, foi chamada para uma conversa com o Ministro Rubens Ricupero, que estava em almoço na CETESB. Ela se encontrava na FLONA de IPANEMA, naquele momento invadida por sem terras e com muitos problemas.

Aquele telefonema inesperado do Ministro deixou Nilde bastante preocupada afinal era o Ministro que estava convocando... Após apresentação e uma breve conversa, o Ministro perguntou o que ela estava fazendo em São Paulo, sem saber a razão da pergunta, Nilde respondeu com modéstia, faço “arroz com feijão caprichado”. Para sua supressa, Rubens Ricupero perguntou se ela não queria fazer a mesma coisa pelo Brasil. A princípio, relutou porque não queria mudar novamente para Brasília. Depois de muita insistência, acabou aceitando o convite, sendo nomeada como Secretaria Nacional do Meio Ambiente e o Dr. Henrique Brandão Cavalcanti como Secretário da Amazônia Legal.

Posteriormente o Ministro Ricupero foi para o Ministério da Fazenda e solicitou ao Presidente da República a permanência da dupla em cargos na gestão ambiental. Desse arranjo, o Dr. Brandão Cavalcanti foi alçado ao cargo de Ministro do Meio Ambiente e Nilde Pinheiro se tornou Presidente do IBAMA.

Quando ela assumiu essa importante missão, o Brasil ainda vivia a conturbação socioeconômica provocada pelo governo desastroso de Collor. O Presidente Itamar Franco enfrentava toda sorte de problemas, sobretudo inflação galopante. A questão ambiental ainda era considerada secundária frente a problemas tão graves. Graças à iniciativa da equipe econômica em julho de 1994 surge o Plano Real e os entraves começaram a dar lugar à perspectiva de planejamento, inclusive para a política ambiental do país.

A gestão de Nilde Pinheiro foi, sobretudo voltada para a descentralização das atribuições legais do IBAMA para as Superintendências em conjunto com os Estados, e, quando possível, por meio de colaboração mútua. Reforço na legislação ambiental por intermédio de Decretos ou Resoluções CONAMA. Valorização dos recursos humanos. Com muita dedicação de sua equipe, conseguiram expandir para todo Brasil o melhor plano de saúde da época, que era a Sul-América. Posteriormente substituíram pela malfadada GEAP. Enfim, fez em menos de um ano inúmeras tarefas que até hoje são lembradas pelos colegas que viveram aquele período de intenso trabalho.

Retornou para São Paulo em 1995, assumindo novamente a SUPES de São Paulo, por determinação do então Ministro Gustavo Krauser e lá permaneceu até abril de l999 quando, já aposentada deixou o IBAMA.

Atualmente tem usado sua bagagem profissional para realizar Consultorias na área ambiental. Com sua aposentadoria, passou a ter mais tempo para fazer coisas que gosta, como: usufruir de estadias no campo e na praia; freqüentar com regularidade semanal cinemas e teatros e ler muito, pois ela escreve constantemente como profissional autônoma.

Nilde Pinheiro é uma mulher forte, que aprendeu a superar as dificuldades e obstáculos da vida com muita firmeza. É uma pessoa disciplinada e bastante racional. Tem um grande senso de responsabilidade. Sempre labutou obstinada com a busca de soluções e nunca deixou de agir com lealdade com aqueles que a cercam. Não é uma pessoa de meias palavras, nem de fingimentos; sinceridade e comprometimento com a causa pública são algumas das características que ela possui.

Mesmo sendo uma pessoa bastante racional, de formação cartesiana, foca sua vida mais no presente. Ela trabalhou muito por onde passou. Tudo que fazia era almejando um dia ver o Brasil livre de corrupção, sem preconceitos de qualquer ordem e com igualdade social de oportunidades.

Nilde Lago Pinheiro é uma referência de profissional séria, inteligente e extremamente competente que deixou sua marca na gestão do mais importante Instituto Federal: o IBAMA.

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Brasília – DF, Outubro de 2014.

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

Curriculum Vitae: http://lattes.cnpq.br/9410800331827187

Maiores informações em: http://recantodasletras.com.br/autores/salerajunior

Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 24/10/2014
Reeditado em 19/09/2021
Código do texto: T5010832
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