Vida passageira

Desde cedo aprendeu a idealizar e criar os seus sonhos. Foi assim que nos seus onze anos, Syd escreveu seu primeiro poema musical. Aos quinze já tinha poesia em músicas na escola de artes, textos em coletânea de escritores amadores da Casa de Imprensa, pinturas exóticas e uma irradiação luminosa na juventude ao redor.

A beleza de seus versos, a sensibilidade cativante das palavras e a inovação do som musical, fez o jovem driblar os obstáculos do caminho e ganhar exposição como um artista pleno, capaz de exercer o dom de conjugar os verbos da vida! Músicas com luzes, sons siderais em letras subterrâneas, a sintonia perfeita, a união de corações e mentes de uma geração, de alma e conteúdo numa visão psicodélica, que derruba paredes emocionais, implode ignorâncias e abre picadas na floresta espinhosa de impressões sensitivas, enfim, que faz a vida interior predominar mesmo derrotada pelos estímulos e cores vindas do ambiente externo.

Não existiam fronteiras para Syd. Se a natureza é o que Deus faz enquanto Deus, dentro de si, Syd sentia a arte como algo que Deus faz enquanto homem, que Deus faz enquanto Syd. A eternidade estava em seu coração e não importava o fim, posto que seja sempre um começo.

Os anos transcorreram para Syd numa efusiva intensidade. Toda vela que acende com maior luz, se consome mais rápido. Syd não soube conviver com seu sucesso juvenil e a incômoda posição de líder da nova tendência da mocidade. A poesia e os alucinógenos preenchiam todos os momentos de alimento de seu corpo, na busca de cada vez mais tênues instantes de expansão da consciência. Surge uma vida transmutada da realidade pelas drogas, um sinônimo de loucura, de imaginação tridimensionada nas luzes ou de versos gruturais em palavras quadrifônicas.

Aos 21 anos, Syd não sonhou mais. Não acordou Syd. Não viveu mais como Syd. Na sua loucura, os fatos escaparam dele, quando o mundo parou de girar. Syd parou de criar, parou de rir, parou de fazer orbitar. O belo moço saiu de cena, ficou o louco, o homem virou o vegetal !

Sua arte marcou uma época, influenciou música e poesia nos 40 anos seguintes. O Pink Floyd vendeu mais discos que os Beatles. Hoje, David Gilmour é um “sir” septuagenário, Roger Waters continua um idoso indomável, Richard Wright deixou saudades e um senil Nick Mason conta suas “ferraris vermelhas”. A atemporalidade da arte e a imortalidade do amor, jamais deixarão os corações de seus fãs se esquecerem daquele louco e genial rapaz, confortavelmente entorpecido, que um dia foi Syd Barret. Queria que você estivesse aqui !