Livre-Arbítrio

Sem tempo para traçar uma rota de fuga, decido apenas observar apaticamente enquanto ele discorre sobre os seus padrões deturpados de moralidade. Apesar do meu desespero evidente e dos esforços para evitar um embate violento, os monólogos intermináveis e desgastantes tornaram-se rotineiros a cada encontro: a implicância com minhas tatuagens originam críticas que tencionam salvar uma alma impura da degradação eterna.

(Rabiscar o corpo é atitude diabólica!)

A série de conversas irritantes contém instruções valiosas que me fazem cogitar a possibilidade de engolir a minha cabeça. Porém, consciente de suas tentativas infrutíferas, meu único receio é o abandono da sua agressão passiva e a adoção de métodos diversificados que incluam me açoitar com o Rosário, espancar com uma Bíblia ou vociferar maldições em Latim.

(Se você já foi alvo do fanatismo religioso vem cá, me abraça!)

Conviver com a perturbação ocasional de certas perguntas imbecis ou de inúmeras perspectivas negativas me torna apta a conter uma combustão espontânea ou qualquer ímpeto homicida. Mas cá entre nós? Percebi que nunca haverá negociação com quem te considera a Mensageira do Apocalipse! E não. Não pense que sou uma criatura sombria sedenta de sangue ou possuo o 666 cravado na testa: a miséria de minha condição reside exclusivamente na cegueira espiritual - na atitude pagã de ousar desfrutar de minha própria liberdade.

(Ui. Me deixa!)