Sou DDA e DDAí? 4 - Transtornos percebidos

Ep 4 - Transtornos percebidos

***Baseado em histórias reais

Resumo do episódio anterior

O livro teria mais para ler em mim. Tinha certeza disso. Eu não poderia mais colocar em risco minha vida, pessoas que eu amava.Esposa e filhas, principalmente.

Episódio - 4

Enquanto fazia as anotações na margem do livro. Veio à mente também as muitas multas de trânsito que por distração e “constantemente” recebia. Um prejuízo considerável. Por duas vezes tive minha carteira retida. Fiz por duas vezes a prova na auto-escola para reaver a carta. Fora dizer que fiquei sem pilotar somados 60 dias. O prejuízo financeiro eu apelo para o lado positivo do DDA ...”esqueci quanto foi o valor”.

Também fui me dar conta que a Dra tinha comentado que o DDA estava em revisão ortográfica. Metamorfose. Estavam acrescentando o “T”. E quem tem distração crônica causa um “T”.

Com “T” queriam definir “Transtorno”. Um dano, ou seja, um prejuízo relacional, emocional, “financial”, profissional, moral, mental, espiritual, educacional, por fim “mortal”, a outros ou a si mesmo. No meu caso estava começando a ter certeza que meu Anjo da Guarda não tem DAA

Comecei a me dar conta que eu como DDA posso até ser “criativo”. Mas quanto mais saia da negação mais percebia que até poderia ser “criativo” mas não muito “preventivo”. Vim a me informar uns 10 anos depois sobre uma tal de impulsividade por ter pouco “inibidor” cerebral.

Um dos muitos prejuízos que causei na minha negação, em resistir a buscar ajuda, a ouvir outros que tem caminhos alternativos para amenizar a distração e a complexidade que ela causa. Foi num acidente por distração com cinco crianças. Tinha acabado de passar com minhas duas filhas para pegar mais três amiguinhos para a rotineira carona escolar. Idade delas? A mais “idosa” tinha por volta de nove anos, as outras daí para baixo faziam uma escadinha caracol.

Já dá para perceber que o “UBER-DDA” mais cinco crianças, a lotação era de seis. Duas crianças menores eu “amarrava” com um cinto só. Dia frio, garoa, em cima do horário como todo santo dia. Por causa do frio todas janelas fechadas. Carro sem ar condicionado. Num instante os vidros embaçam. Uns dez quarteirões em direção a escola. Num cruzamento onde a preferencial era dos outros motoristas. O UBER-DDA aqui por impulsividade e distração atravessa o cruzamento.

Ainda lembro da cena do carro Clio 0 km...na verdade com 500km rodados batendo na lateral do Kadett cinza. Logo vi que era azul claro o Clio. Os vidros laterais tinham se transformado, igual a um daqueles quebra-cabeça de 1000 pecinhas, caindo sobre as crianças. Claro que o susto foi geral. Minha filha com o impacto fraturou a clavícula. As outras crianças “só” dores musculares.

Pensa no susto que os pais tiveram ao receberem o telefonema 5 minutos depois que beijam suas crianças no portão:

_Alô!!!...Está tudo bem com nossos filhos...mas houve um acidente aqui no cruzamento das ruas x com y.

Todos para o Pronto Socorro. Atendimento de um a um. E depois fazer B.O. na delegacia local. Muita espera e demora. Depois que fizemos o B.O. o delegado resolve encaminhar todos nós para o I.M.L./SP para fazer exames ...para averiguar.

Os pais das crianças são nossos amigos. Essa crise nos uniu mais, não nos desuniu. Agora imagina dois pares de jovens pais, com seis crianças entrando naqueles corredores sombrios do I.M.L. Salas mórbidas. Ar cheirando éter. Quando o médico viu aquelas crianças e ouviu nossa história não se conformou com o encaminhamento do delegado. Foi logo assinando os papéis e pediu para que retirássemos logo as crianças daquele ambiente.

Fui percebendo que escrever me fazia lembrar e organizar pensamentos, sentimentos e comportamentos. Escrever me ajudava a me concentrar, focalizar e aos poucos fui me convencendo que a ajuda da Ritalina estava fazendo efeito.

Pois no inicio quando comecei a tomar. Sinceramente. Não sentia diferença nenhuma. Minha esposa e filhas já estavam vendo e percebendo mudanças. Eu no entanto achava que tanto faz como tanto fez. Quando relatei a Dra ela foi subindo a dosagem até chegar a 30mg. então eu mais efetivamente percebi também nitidamente a diferença. Assim com tem A.C. / D.C. Agora posso dizer que comigo foi assim sem Ritalina, com Ritalina. S.R. / C.R.

Continua..

Cenas dos próximos episódios

Depois que descobri que o DDA é criativo por natureza e "Deus não desperdiça nenhuma dor" resgatei meu gosto por fotografia. Para combater minha baixo auto-estima. Coloquei bebedouros nas janelas do meu apartamento. Dou um tempo entre as tarefas de rotina. Me presenteio com uma simples gratificação e constantemente. Faço o que gosto frequentemente para suportar fazer o que não gosto muito...mas tem que ser feito!