Sou DDA e DDAí? 7 - Túnel do tempo

Sou DDA e DDAí? Ep.7 - Túnel do tempo

Percebi que visitar o passado com as novas informações sobre DDA/TDAH poderia ressignificar meus pensamentos, comportamentos e sentimentos.

Seria útil para eu me estruturar para não cometer os mesmos erros. Seria mais produtivo no futuro. Como DDA/TDAH comecei a perceber que no passado, em muitas coisas eu podia até ter muita movimentação, mas sem deslocamento, para um objetivo, para terminar um projeto. Para um propósito.

Uma das leituras que fiz a ilustração que me chamou a atenção foi que minha mente era como uma pessoa míope. Sem óculos.

Eu como DDA/TDAH sem medicamento, sem estrutura externa e comportamental era míope de cérebro. Mente embaçada, não enxergava “mentalmente” direito. Mas eu poderia colocar um óculos “medicamentoso” e teria foco. No meu caso deu certo. Na minha filha não. Teve reação alérgica a Ritalina e teve que parar, fizemos a estrutura sem a medicação.

Para preencher os buracos brancos, entender e ressignificar o passado. Comecei a olhar fotos antigas e tentar escrever o contexto da época. Também num daqueles dias que estava treinando fotografia. Comecei a reunir e montar objetos que representasse áreas da minha vida de DDA/TDAH. Que carregasse significados positivos e “não positivos”. Como se fosse uma cápsula do tempo. Que ao olhar a fotografia me ajudasse a lembrar a relevância de tudo aquilo.

Primeiro fiz na mesa da sala uma montagem da vida geral do passado. Depois fiz uma foto geral. Fui fotografando grupos de objetos que representavam áreas da vida, trabalho, hobby, casamento, programa de 12 passos, educação de filhos, pesca, livros, compulsões, espiritualidade, música, informática, passarinhos, desenho, decoração etc.

Este canto da fotografia representa “trabalho e férias”. Trabalhei e ainda trabalho igual um “camelo”. Aprendi a reverenciar o trabalho. Trabalho não é castigo, é benção. E dádiva dos céus.

Descobri pensando no passado que juntei meu DDA/TDAH com a escolha da minha profissão. Desenhista Projetista. Mas como cheguei lá?

Quando pequeno morava bem perto de um ponto final de ônibus. Então tendo contato visual frequente com “motoristas” e “cobradores”. Uniformizados com gravatas, na época era com gravatas. Tinham o “poder” de abrir e fechar as portas. Prendiam as notas dobradas entre os dedos para fazerem o troco. Numa fantasia de infância não me restava outra imaginação senão responder a quem me perguntasse:

_O que você vai ser quando crescer?

_ Motorista ou cobrador de ônibus!!

Já podem imaginar as reações de alguns tios e tias, avós e avôs. Pela cara deles deixei de dar essa resposta. Uma vez que esperavam mais de mim.

Como eu tinha uma penca de tios e tias...se me recordo bem...(essa foi boa em se tratando de um DDA/TDAH). Juntando todos...maternos e paternos…. uns 14. Crescendo um pouco já na adolescência. Via e conversava com tios e tias com várias atividades de trabalho. Caminhoneiro, tio que trabalhava em gráfica, tio taxista, policial, vendedor de loja de colchão, químico, tia vendedora de loja de bolsas em shopping, outro trabalhava em malharia, contador, diretor de indústria de aço, meu pai metalúrgica.

Pesquisando cada vez mais sobre as características positivas de um DDA/TDAH. Dentre muitas encontrei “criatividade”, “fácil de fazer amizades”, “bom humor”, “mente aberta para pensar fora da caixinha’.

Um belo dia um dos meus tios começa a fazer um curso de Desenho Mecânico. Como toda semana estava visitando minha vó e vô...e os tios. Ele foi me explicando como usava os instrumentos. Lapiseira, grafite HB...B...2B, compasso, Régua T, esquadros. Como fixava o papel com fita adesiva no plástico verde da mesa de desenho. Planta, lateral e corte. Perspectiva. Como lavava as borrachas..branca...cinza...azul, com água...tinham que estar limpas para não borrar o desenho. Depois as canetas de nanquim.

Agora imagina um DDA/TDAH como eu que já gostava de fazer desenho. Desses desenhos sem pé nem cabeça. Descobrir que existia uma “estrutura” “uma forma de “focalizar” um objetivo de alcançar um objetivo: desenhar aquela peça...aquela ferramenta...aquele suporte. Criar...inventar...projetar...criar...inventar….projetar. Inspirado no meu tio, fui fazer o curso de Desenho Mecânico no colégio num curso técnico. Logo com 17 anos entrei para trabalhar num escritório de engenharia como office-”boi” ...de camelo fui promovido para “boi”.

Depois de anos que eu já estava me ritalizando. Vi na TV quando começou as reportagens sobre pessoas “DDAtizadas” uma mulher que tinha feito Direito. Já advogada, estava enfrentando “conflitos e dificuldades”. Foi descobrir ser DDA/TDAH. Decidiu fazer curso de Arquitetura. E colocar para fora sua criatividade. O cérebro é feito para uma mente ser criativa. Mas quando se fala de um ou uma DDA/TDAH. Pra gente é normal ser criativo

Pensei comigo graças a Deus não precisei fazer Direito.