Minha história capítulo IV

Depois que minha mãe faleceu encerrou minha vida nômade, fixei-me num só lugar, a casa do meu pai e dos meus avós paternos. Saberia que não apanharia mais, e não ficaria com medo de me expressar. Porém um enorme vazio invadiu meu coração, sentia falta de alguém que pouco estava presente, mas que agora eu sabia que nunca mais iria ver.

Quando se é criança não se tem noção das realidades como um todo, pois o mundo que se vive é lúdico, camufla o tempo. Mas no fundo de minha alma refletia a perda e exalava o breu das cinzas.

Eu me sentia muito só, e fazia muitas coisas sozinha como por exemplo ir a escola sozinha com sete anos de idade, e era longe, subindo e descendo morros no meu caminho de solidão.

As vezes olhava de um lado para o outro e não avistava ninguém, só o vazio o medo e a vergonha que eu tinha de me expor.

Eu quis ser diferente mas não dava, era como se eu quisesse exigir muito de mim.

Possuia um olhar nada expressivo, um olhar choroso como se quisesse bater no peito e clamar por minhas lamentações. E parecia também que ninguém ouvia ou simplesmente não queria ouvir.

Vivi meu próprio luto por longos anos em profundo silêncio, como se eu quisesse afundar um baú imenso para o fundo do mar.

Meu coração sangrava por coisas das quais não me lembrava mas de alguma forma sabia que havia passado o medo de encarar as pessoas o medo de falar como se eu fosse muda mas eu tenho voz e fui descobrindo isso ao longo do tempo.

Desabafo de um humano

Eu nasci no mundo

mãe e pai não me quiseram,

então repousei nos braços de quem me acolheu.

Lágrimas soltas rolaram,

nas vestes de seda

e nos trapos da vida.

Fui condenada a não saber minha origem,

e isso delimitou meu destino.

Se alguém me fosse fiel nos ramos verdes da vida

e olhasse no fundo dos meus olhos,

enxergaria meu coração

e me ganharia para sempre.

Mas se a realidade fosse contrária,

pouco valorizaria os detalhes do cotidiano.

Aprendi a omitir, pois muito me foi omitido,

expresso fragmentos sem a visão filosófica do inteiro,

e quando persisto em constituir o todo,

a escassez de partes que me faltou me delimita, me interrompe.

Por isso decidi abrir o baú de minha existência,

tentando unir as lacunas do tempo,

reconstituindo os requícios do passado.

Minha geradora disse-me adeus no tempo prematuro,

mas a vida permanece e ela é meu presente,

indepêndente de sua origem.

Ergo a cabeça e sigo em frente,

com braços soltos e pés marcados,

"DESEJANDO" viver e transformar a vida que recebi.

Hoje não mais me encaro pelos pés, mas olho meu reflexo

e na pupila da realidade me aceito como todo,

libertei-me de mim, estou feliz, consegui desabafar......

Patrícia Onofre
Enviado por Patrícia Onofre em 04/07/2018
Reeditado em 03/08/2021
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