Abel Leopoldino da Rocha (1896-1924)

Na década 1920, a área onde atualmente estão localizados os municípios de Alagoinha do Piauí, São Julião, Vila Nova do Piauí, Campo Grande do Piauí e Monsenhor Hipólito era quase inexplorada, as estradas eram precárias e resumiam a meia dúzia de veredas por onde passavam as caravanas de burros transportando mercadorias entre as Unidades da Federação.

Ao longo destas rotas surgiram alguns povoamentos que décadas depois se tornariam independentes. Um exemplo foi a Fazenda “Rodeador”, que servia de local para travessia do Rio Grande e também descanso para tropeiros que faziam o percurso entre o Ceará e o Maranhão, e em 1963 foi emancipada politico-administrativamente ganhando o nome de Santo Antônio de Lisboa (PI).

Nas três primeiras décadas do século XX o Brasil vivia a política do “Café com Leite” no qual a administração federal era revezada entre São Paulo, através de sua elite cafeeira, e Minas Gerais, com os poderosos pecuaristas.

O Piauí era um Estado predominantemente rural que sobrevivia do extrativismo, da agricultura e da pecuária. As iniciativas do setor de transformação eram ensaiadas timidamente nos centros mais populosos.

Apesar da estabilidade política imposta pela elite piauiense existia o temor do Cangaço, movimento que atingiu vários Estados do Nordeste, que tirava o sono dos coronéis e a Coluna Pestes, levante Comunista encabeçado por Luís Carlos Prestes. Estas ameaças fizeram com que os fazendeiros fortalecessem ainda mais o poder que detinham sobre suas áreas de influência. Nesta época passou a existir uma verdadeira milícia armada que mantinha a chamada “ordem” nos pequenos povoamentos.

No entorno do domínio politico e geográfico de Patrocínio (hoje Pio IX), município de 10 mil habitantes, segundo a Edição C00083 do Almanaque de 1927, as atividades econômicas eram bem definidas, existiam três carpinteiros, quatro pedreiros, sete capitalistas, 15 fazendas e armarinhos e 18 criadores catalogados, um deles, era o Major Leopoldino da Rocha Soares (1869-1934). O pequeno município em densidade demográfica e enorme em área territorial exportava couro, borracha e cordas de caroá e importava tecidos e ferragens.

Foi neste ambiente, que o Major Leopoldino da Rocha Soares fez seus negócios prosperarem e se tornou um dos homens mais influentes de sua época. Além de pecuarista, Leopoldino exerceu cargos de destaque na administração local e também foi um importante Capitalista, função equivalente à exercida pelos bancos atualmente.

As vastas propriedades rurais do Major Leopoldino da Rocha Soares se estendiam por uma área que atualmente compreende cinco municípios. A principal atividade econômica da época era a pecuária que fornecia carne, couro e também animais mansos para o trabalho pesado nas desmanchas de mandioca/macaxeira e nos engenhos de cana-de-açúcar.

O rebanho era criado solto nas grandes áreas de vegetação fechada, sendo bastante comum animais serem abatidos por onças ou até mesmo morrerem durante quedas de penhascos. Para garantir que o gado tivesse água à disposição durante a maior parte do ano, Leopoldino mandou construir dezenas de barreiros em locais estratégicos. Todos os anos no final da seca os reservatórios eram revitalizados por trabalhadores com apoio de animais mansos, carros-de-boi e bangues para armazenar água no período chuvoso.

Era preciso muita gente para juntar o rebanho espalhado no mato e levar para os amansadores para que os animais fossem marcados, separados, os novilhos amansados e as fêmeas colocadas para cruzar. A pega do boi era feita por vaqueiros profissionais com apoio dos filhos do Major Leopoldino da Rocha Soares. Foi durante a captura de um boi bravo na comunidade “Lagoa Comprida” que um dos doze filhos do Major Leopoldino perdeu a vida.

Abel Leopoldino da Rocha (1896-1924) nasceu em um sábado, no dia 03 de maio de 1896. Ele se casou no dia 12 de dezembro de 1918, com 22 anos, seis meses e nove dias, com sua prima legitima Izabel Josefa da Rocha (nascida em 24 de agosto de 1902 e falecida em 15 de junho de 1978), filha Nicolau Ricardino da Rocha (1863-1909) e Josefa Maria de Souza Rocha (1869-1953). A cerimônia aconteceu na comunidade “Cacimbas”, município de Jaicós (atualmente Vila Nova do Piauí).

Em 1919, Abel comprou uma propriedade na localidade “Galhofa” onde ergueu sua casa e passou a morar com a esposa, vivendo por apenas quatro anos no novo imóvel. Logo a esposa engravidou do primeiro filho que recebeu o nome de Mário Abel da Rocha (1922-2010), em seguida nasceu Graciosa Izabel da Rocha. Izabel Josefa da Rocha estava grávida de “Abel Filho” quando aconteceu a grande tragédia que tirou a vida do esposo.

Era uma segunda-feira, dia 08 de outubro de 1924, Abel Leopoldino do Rocha e os irmãos Jaime Leopoldino da Rocha (1888-1973), Joaquim Leopoldino da Rocha (1893-1975), Anísio Leopoldino da Rocha (1894-1975), Licínio Leopoldino da Rocha (1900-1976) e Alindo Leopoldino da Rocha (1909-1981) além dos amigos Demóstenes, João de Deus e Cicero Canário estavam campeando o gado quando um touro bravo se separou do rebanho. Vestido de perneiras, gibão e peitoral, Abel que montava bem e era destemido disparou seu cavalo de mato adentro, de longe era possível escutar o som da vegetação seca quebrando e o estremeço do barulho das patas dos animais chocando ao chão.

De repente o silêncio, algo fora do normal havia acontecido. Não demorou muito tempo para que os vaqueiros descobrissem a verdade. A queda inesperada tirou a vida de Abel e de seu cavalo instantemente. Naquele momento, todos foram tomados de uma enorme comoção e revolta, o touro foi logo capturado e morto com 24 facadas e sua carne jogada aos urubus.

A morte prematura de Abel gerou um grande pesar na Família Rocha. O Major Leopoldino da Rocha Soares ao receber a triste notícia passou muito mal e teve que ser medicado com os remédios caseiros usados na época. Desde então, ele nunca mais teve a sua saúde plenamente recuperada.

A história da curta vida de Abel foi repassada oralmente entre as gerações. A data em que ele morreu se tornou dia de azar e por muitos anos foi guardada como forma de evitar novas tragédias. O nome Abel desde então foi usado por decentes como homenagem ao valente vaqueiro.

Jonas Rocha
Enviado por Jonas Rocha em 20/08/2018
Código do texto: T6424539
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