Navez da Silva Rocha (1921-2017)

Navez da Silva Rocha nasceu em 03 de janeiro de 1921, no povoado “São Julião”, local que através da lei estadual nº 2042 de 01 de dezembro de 1960, daria origem ao município do mesmo nome.

Neto do Major Leopoldino da Rocha Soares (1869-1934), “Veizinho” era o terceiro filho do casal Jaime Leopoldino da Rocha (1888-1973) e Alice da Silva Rocha, que além de Navez, teve mais sete filhos: Nicomedes da Silva Rocha, Nemézio da Silva Rocha, Nito da Silva Rocha, Leopodina da Silva Rocha (Mocinha), Alaíde da Silva Rocha, Lídia da Silva Rocha e Francisco da Silva Rocha (Padre Rocha).

O pai de Navez, Jaime Leopoldino da Rocha, viveu inicialmente na Fazenda “Piranhas”, lugarejo que atualmente pertence ao município de Alagoinha do Piauí.

Por volta do ano de 1909, Jaime foi levado pelo Padre Marcos Francisco de Carvalho (falecido em 1923) para estudar em São Raimundo Nonato, onde conheceu Alice Silva, que era natural do lugar, e que dentre tantas outras virtudes, era uma mulher de muita fé e devoção.

Em 1917, Jaime e Alice matrimoniaram-se e foram residir em São Julião, onde nasceram os filhos e desenvolveram as atividades: comercial, agrícola e a pecuária.

A fé no catolicismo e a compreensão da importância do trabalho como forma de dignificação do homem foram herdadas da tradicional Família Rocha, linhagem reconhecida no Estado do Piauí pela Seriedade, Honestidade e Honradez.

Ainda na juventude, antes mesmo do casamento, Navez da Silva Rocha adquiriu suas próprias áreas de terras e construiu residência no “Cansanção”, comunidade rural que pertence atualmente a São Julião (PI), onde no curto período chuvoso do Semiárido Piauiense cultivava feijão, milho e mandioca.

Estudar, conseguir uma formação superior e ser Juiz de Direito, era um sonho de infância de Veizinho. Mas as dificuldades impostas pelo isolamento da região na época impediu que a aspiração se concretizasse. Navez era um homem conhecido pelos seus contemporâneos pela exuberante sabedoria, que apreciava uma boa leitura e era conhecedor dos mais diversos assuntos.

Em 1942, Veizinho, com 21 anos de idade, contraiu núpcias com a prima legitima Josefa Cláudia da Rocha, com quem teve cinco filhos, Francisco, Emídio, Alice, Jaime e Raimundo Nonato.

Josefa Cláudia da Rocha era filha do respeitável casal Emídio Marcos de Carvalho e Cláudia Francelina da Rocha (filha do Major Leopoldino da Rocha Soares e Maria Francelina da Rocha)

Naquela época, o acesso ao serviço de saúde era inexistente e para conseguir atendimento médico era necessário se deslocar centenas de quilômetros montado em animais, o que gastava dias e até mês, “Às vezes quando chegava o medicamento estava acontecendo à visita de sétimo dia”, diziam os antigos. Os profissionais médicos como Oscar Neiva Eulálio, formado em 1955, residente em Picos (PI), costumava viajar centenas de quilômetros em Jipes e em lombos de burros para salvar vidas de mulheres em processo de parto.

Em 25 de maio de 1952, devido complicações no parto, Josefa Cláudia da Rocha faleceu, deixando o esposo inconformado e cinco filhos crianças órfãs. Foi um período de dificuldades, Navez tinha que desempenhar o papel de pai e mãe, dando assistência aos filhos, sem prejudicar as atividades econômicas da família.

Em 08 de dezembro de 1952, Navez casa com Elvira Anísia de Sousa Rocha (filha de Joaquim Antônio de Sousa e Dona Anísia), em cerimonia realizada no povoado São Julião. Do segundo enlace matrimonial nasceram Joaquim, Corbiniano, Raul, Gilberto, Lourenço, Erasmo, Maria da Conceição, Anísia, José Navez e adotaram Júlia Andréia. O casal permaneceu unido por 61 anos até o falecimento de Elvira, a “dona”, como Veizinho carinhosamente a chamava.

Navez desenvolveu a agricultura, principalmente a plantação de feijão e mandioca em larga escala. A mandioca era transformada em goma e farinha através do processo conhecido como “Desmanchas”. No período de boas safras, as “desmanchas” ou “farinhadas” chegavam durar cerca de três meses e empregavam dezenas de famílias.

O produto era transportado através de cavalos e burros, para ser comercializado em cidades como Paulistana (PI) e Acopiara (CE), em viagens que duravam dezenas de dias.

Na pecuária, Veizinho se dedicou, principalmente, à criação de bovinos e caprinos. Além de carne e couro, os animais forneciam o leite, que era transformado em queijo, manteiga e qualhada que eram consumidos pela família e o excedente comercializado nas feiras-livres.

Em 1961, Navez adquiriu uma faixa de terra chamada Milhãs, localizada entre São Julião (PI) e o antigo povoado “Quilometro 64”, da BR-316, atual cidade de Vila Nova do Piauí (PI). Cinco anos depois, ele construiu uma casa e um “aviamento” na Fazenda Milhãs, e se transferiu definitivamente com a família para nova propriedade.

Navez da Silva Rocha foi um apaixonado pela política, falava com orgulho da trajetória política conquistada pelo neto Arinaldo Leal (ex-prefeito de Vila Nova do Piauí) e também das histórias que viveu na juventude, como o processo eleitoral que seu irmão Nicomedes da Silva Rocha (1917-1980) foi eleito prefeito de São Julião (PI) e da fundação do Diretório Municipal do PMDB de São Julião ao qual foi filiado.

Quando tinha 95 anos e com uma memória invejável, Navez recordava sobre os momentos importantes da política nacional, como os mandatos dos presidentes progressistas Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, e também do período de opressão da Ditadura Militar.

Veizinho tinha cinco anos de idade, mas lembrava com segurança da passagem da Coluna Prestes por São Julião, em janeiro de 1926, evento que provocou alvoroço na sociedade da época.

Navez da Silva Rocha faleceu aos 96 anos, no dia 28 de junho de 2017, em Vila Nova do Piauí. Milhares de pessoas de dezenas de municípios acompanharam o velório e sepultamento. O sepultamento aconteceu na manhã de 29 de junho, na Fazenda Milhãs, antes, o Padre Gregório Leal Lustosa, celebrou uma missa de corpo presente que reuniu familiares, amigos, prefeitos, vereadores e líderes políticos da região.