Nicolau Ricardino da Rocha (1863-1909)

Setembro de 1863. Estava com oito meses que Abraham Lincoln, presidente Norte-Americano, havia decretado a abolição da escravatura em todo o território dos Estados Unidades, país que estava mergulhado em uma sangrenta guerra civil (1861-1865) que mudaria para sempre o modo de vida de toda uma sociedade.

No Brasil, há 13 anos era proibido o tráfico de escravos como previa a legislação aprovada em 04 de setembro de 1850, denominada de “Lei Eusébio de Queiroz”, uma homenagem ao Ministro da Justiça do Império, Eusébio de Queirós Coutinho Matoso da Câmara (1812 -1868), autor e defensor do Projeto de Lei.

O texto extinguiu a entrada de africanos no Brasil através dos navios negreiros, mas não a comercialização no mercado doméstico. Com o fim do comércio entre os dois continentes, o preço do escravo no Brasil supervalorizou e contribuiu para o crescimento de transações entre províncias. Possuir um escravo já não era tão fácil como no passado e com os preços as alturas só a elite mais rica podia comprar.

No Vale do Rio Marçal, ou Rio Grande, no Semiárido da Província do Piauí, a pecuária se desenvolvia quase sem necessidade de escravos, mão de obra que era utilizada com maior intensidade nas atividades domésticas e na lavoura, especialmente nos canaviais e nos engenhos de Cana-de-açúcar.

A criação de gado era uma das poucas atividades econômicas do Império que permitia ascensão social. Os vaqueiros recebiam um animal de cada quatro que nascia na Fazenda, com isso, em alguns anos, o empregado tinha a oportunidade de deixar de ser vaqueiro e se tornar dono de seu próprio rebanho.

Foi através deste sistema que o Piauí foi colonizado partindo do interior e se espalhando pelos vales dos rios com água em abundância em direção ao norte, impulsionado pela criação de gado que provocou constantes batalhas entre fazendeiros e índios que não aceitavam suas terras serem tomadas pelos brancos pecuaristas.

Na metade do século XIX os índios piauienses já não eram mais uma ameaça às pretensões econômicas dos fazendeiros. Muitos haviam sido dizimados, aculturados e domesticados para serem empregados nos mais diferentes serviços braçais.

Existem muitos registros orais de crianças indígenas raptadas pelo homem branco e que passaram a ser criadas nas fazendas. Um exemplo foi a jovem índia “Carolina” que teria sido capturada a cavalo e criada pelo casal de fazendeiros Raimundo de Souza Brito e Narcisa Borges Marinho Leal, na região onde hoje está localizado o município de Bocaina (PI). Neste caso, a indiazinha acabou se casando com o filho de Raimundo e Narcisa, Pedro de Sousa Brito, dando origem às famílias Brito, Souza, Pinheiro, Cipriano entre outras.

No ano de 1863 a província do Piauí foi administrada por três presidentes: José Fernandes Moreira, governou de 13 de Junho de 1862 a 30 de junho de 1863; Pedro Leão Veloso, administrou de 30 de junho a 04 de dezembro de 1863, e por último Antônio Sampaio Almendra, que chefiou o executivo provincial de 04 de dezembro de 1863 a 28 de maio de 1864.

Foi na curta gestão do juiz, jornalista e político Pedro Leão Veloso (1828-1902) que Nicolau Ricardinho da Rocha nasceu no dia 11 de setembro de 1863, na Fazenda Piranhas, na época pertencente ao município de Jaicós (PI).

Fazendeiro respeitado na então área inóspita do Piauí, Nicolau era filho do patriarca da Família Rocha, o Coronel Joaquim da Rocha Soares com a primeira esposa, Francisca Maria da Conceição, filha legítima do casal Ricardo Rodrigues de Carvalho e Maria Antônia de Carvalho.

Ainda na juventude, como era de costume, Nicolau casou-se com sua prima, a jovem Josefa Maria de Sousa Rocha (1869-1953), filha do Capitão Antônio da Rocha Soares e Izabel Maria de Sousa, casal que residia na região onde hoje está localizado o município de São Luís do Piauí (PI).

Após o matrimônio, Nicolau e Josefa passaram a residir na Fazenda “Caiçarinha”, hoje comunidade rural localizada no município de São Julião (PI), divisa com Alagoinha do Piauí (PI), onde exerceram a pecuária.

Nicolau e Josefa tiveram 14 filhos: Antônio Cezaltino da Rocha, Joaquim Nicolau da Rocha, José Nicolau da Rocha, Francisco Nicolau da Rocha, Maria Josefa de Sousa Rocha, Josino Nicolau da Rocha, Abel Nicolau da Rocha, Antonino Nicolau da Rocha, Izabel Josefa de Sousa Rocha, Raimundo Nicolau da Rocha, Nicodemos Nicolau da Rocha, Jonas Nicolau da Rocha, Bianor Nicolau da Rocha e Aderson Nicolau da Rocha.

Nicolau era meio irmão do Major Leopoldino da Rocha Soares, tinham o mesmo pai, mas genitoras distintas. Nas gerações seguintes, as famílias dos dois importantes fazendeiros, que contribuíram de forma decisiva no desenvolvimento econômica, cultural e social da região, se uniriam ainda mais através de laços matrimoniais dos herdeiros.

Nicolau morreu jovem deixando Josefa, viúva, com 14 filhos ainda menores de idade para criar. O chefe da família tinha apenas 46 anos de idade quando veio a óbito no dia 29 de junho de 1909, vítima da moléstia do coração, como chamavam problemas cardíacos.

Depois da morte do esposo, Josefa passou a se dedicar exclusivamente aos filhos e com muita determinação os educou dentro dos princípios morais da Família Rocha. A viúva viveu muito para os padrões da época, falecendo de causas naturais aos 84 anos, no dia 12 de março de 1953, sem nunca ter consultado um médico.