SAM: Serviço de Apavoramento de Menores!

Antes de viajar para o Paraná, com uns 8 anos de idade, vivíamos "presos" em casa, já que a mãe trabalhava e não podia deixar-nos na rua ao nosso bel-prazer. Era ela sair pela porta, nós voávamos pela janela, e ai era rá-ré-ri-ró-rua, o dia todo, sempre de olho na pista, pra ver se não vinha o carro da RP, radio Patrulha. Era só avista-lo, e mergulhar em desabalada carreira, por quaisquer dos caminhos que saem da rua em meio aos barracos.

Verdadeiros labirintos, quem entrar correndo num, sem saber aonde esta indo, pode terminar no cemitério. Naquele tempo a Polícia não subia o morro pra fazer reféns, e oque o bandido mais temia não era a Policia, mas sim a fama.

Bandido famoso não durava muito.

Dia vai, dia vem, eis que uma pipa, pandorga, papagaio, rabiola ou que outro nome tenha, papéis voadores controlados por uma linha, nos levou bem mais longe do nosso beco do que devia, e distraídos não vimos a RP chegar.

Fomos presos, enfiados na jaula metálica, e levados para um lugar chamado SAM, que nunca soube oque significava, mas que traduzo hoje para: Serviço de Apavoramento de Menores.

A frente do prédio me lembro era de tijolos aparentes, lembrando aquelas construções londrinas, e lá dentro um pátio de 50x50, rodeado por um dormitório para uns 20 menores, um consultório dentário apesar de não ter visto um só atendimento, nos 3 meses em que lá ficamos.

Depois uma super lavanderia, ai um pequeno patio aonde tomávamos banho, com uma imensa cabine de avião, que caiu lá e não tiraram. Em seguida vinha um murro alto com alguns buracos para vermos TV, cujo único programa era vermos presos adultos tomando banho, ou sem fazer nada.

O muro alto findava no nosso refeitório, que era separado dos adultos por uma grade de cadeia. Assim podíamos ver nosso futuro enquanto comíamos!

A noite, dormir antes dos outros nem pensar, assim pude ver um pouco do que foi mostrado no filme Pixote, um urinando na boca de outro que dormia. Nos 3 meses, tempo permitido, que ficamos no SAM, não me lembro de ter conversado com ninguém.

Fomos transferido para um reformatório, com recepção gloriosa. Eu, meu irmão e um outro, fomos colocados de frente para uns 15 moleques, enquanto um tipo Português de uns 50 anos, que provavelmente tinha sido laureado com louvor no DOI-CODI, nos vocifera a regra unica:

É Proibido Urinar na Cama!

Outra noite mal dormida, e de manhã o 1º Show.

Fomos perfilados no mesmo corredor da recepção, e dali podíamos ver ele conferindo cama por cama, para ver se encontrava o desenho liquido de um mapa de qualquer Estado.

De Sergipe, Espirito Santo e similares a surra era pequena, mas Amazonas e Pará, doía na nossa alma a dor do infeliz. Dormir nem pensar, noite vai, noite vem, e uma barulheira infernal de tampa de panela caindo na cozinha.

O nazista invade o dormitório e ordena:

Todo mundo pra fora!

A mesma fila de sempre bem de frente pra cozinha, o demônio vai, abre a porta e de lá sai o morto de fome. Pego pelo orelha, o capeta abre a tampa da lixeira que ficava ao lado da porta, e obriga o infeliz a comer 2 cascas de bananas, tira o cinto e repete o martírio.

Uma surra terrível!

Deus foi bom para nós, pois 2 semanas depois nossa mãe nos achou. A visita era só aos domingos, então na 1ª visita ela trouxe um bocado de frutas e biscoitos, que nos foi tomados assim que ela saiu.

Neste local o espaço de "lazer" era menor, de 10x10, e havia num dos cantos um pé de Carambola, entupida delas, verde-amarelas, lindas, parecendo balõezinhos suspensos. Mesmo morrendo de fome, todos ficávamos torcendo para elas adquericem a côr Laranja-Podre, e ai podermos dar 2 mordidinhas nas "melhores partes"!

Um mês e meio depois estávamos fora deste Inferno!