1069-INFÂNCIA, MENINICE E JUVENTUDE

INFANCIA, MENINICE E JUVENTUDE – AS AMIGAS - TIA JULIA

Elvira já criança maior auxiliava na criação dos irmãos mais novos. Passou os primeiros anos de sua infância – até os quatro anos – na Fazenda Monte Alto. Com a mudança da família para a cidade de São Sebastião do Paraiso e com a mudança de total de hábitos, ajudava, mesmo com cinco e seis anos, a mãe no que podia fazer nas lides diárias.

A família era de condições simples. Para se ter ideia, as roupas dos meninos mais velhos iam passando para os menores, até que se acabavam literalmente pelo uso. Os irmãos maiores passaram a frequentar a escola primária.

Quando chegou à idade escolar, a garota passou a frequentar a escola particular da professora Alda Polastri, cuja capacidade de boa educadora e mestra sensível era do conhecimento geral da Cidade. Com a eficiente professora ela foi alfabetizada e aprendeu a se expressar de maneira correta e coerente.

As aulas eram ministradas no antigo prédio da Sociedade Italiana, fundada por diversos paraisenses descendentes de italianos, como Walter Braghini, Vitório Comlombaroli, Capitão Emilio Carnevale, José Dramis e muitos outros. O prédio ficava no então Largo São José. Mais tarde, no tempo da II Guerra Mundial, a Sociedade Italiana oi obrigada a se dissolver. O prédio passou a ser a Liga Operária, e o Largo passou a se chamar Praça São José.

Elvira frequentou a escola primária durante quatro anos, sendo que permaneceu dois anos na primeira série e mais dois anos na segunda série. É interessante registrar que a frequência não era levada em conta. Os alçunos iam às aulas quando não tivessem outro compromisso. Por pretextos mais simples, como chuva, ou outro de pequna gravidade, como doença de algum irmão, alguma tarefa doméstica mais importante, até mesmo o fato de não ter feiro os deveres de CSA, constituíam motivo para não frequentara a escola.

Tinha dez anos quando fez o terceiro ano e no ano seguinte (1921) recebeu o diploma de conclusão do curso primário..

Chegada a idade entre doze e quinze ou dezesseis anos – a adolescência, que naqueles tempos, nem era conhecida como tal, mas simplesmente meninice – andava constantemente em companhia dos irmãos mais velhos , para suas saídas à cidade, que eram quase que tão somente para assistir à missa aos domingos e dias santos.

Na juventude – período indefinido, quando as mocinhas eram chamadas de “moças casadoiras” e os garotões passavam a ser rapazes – ela já tinha amigas residentes na vizinhança. As moças da família Cantieri eram as com quem Elvira mais saía, sempre deia, à exceção dos tempos das festas religiosas.

Três grandes festas religiosas eram realizadas na cidade: a de São Sebastião, em janeiro, a de Nossa Senhora da Abadia, em agosto, e a de Nossa Senhora Aparecida, em outubro. Então, a moças das familias Cantieri, Colombaroli, Bérgamo, Mumic, iam juntas às novenas e ficavam, depois das rezas, passeando entre as barraquinhas do leilão de prendas, de tiro-ao-alvo, de pescaria, de maçã do amor e correio elegante. Trocando olhares furtivos com os rapazes e por vezes recebendo mensagens através do correio elegante.

Era preciso ter muita coragem para trocar olhares; receber uma mensagem pelo correio-elegante, era, sim, uma emoção para a moça que recebia e um atrevimento por parte do rapaz que a enviava. Coisas do romantismo daqueles tempos de singelos costumes.

Havia uma amizade especial entre Elvira e Djanira uma das filhas do incansável Giuseppe Cantieri. As duas confidenciavam segredinhos, tinha grande intimidade e mais tarde se tornaram comadres, o que era sinal de grande estima entre as amigas e amigos. Elvira a chamava carinhosamente de comadre Nira.

O tio Emilio Colombaroli e a esposa Julia eram o casal de melhor situação financeira, moradores também pelas imediações da estação da Estrada de Ferro Mogyana, e portanto, próximo à chácara Santa Rosa. Elvira gostava muito da tia Julia, que, por sua vez, prezava muito a sobrinha. Tia Julia era então a única mulher motorista de automóvel na cidade (algo de muito moderno e até extravagante para a época) e constantemente chamava a sobrinha para dar voltas pela cidade no carro do marido. . .

Num passeio de carro pela cidade juntamente com Tia Julia, Elvira foi convidada para ir a cartomante “olhar a sorte”. Tratava-se de cigana ao que tudo indica, parecia ter grande grau de vidência. Neste contato Elvira teve duas supresas acentuadas segundo a cartomante; A primeira era que naquele ano ainda Elvira iria se casar. A segunda supresa dizia que iria perder um ente muito querido brevemente. De fato as duas versões da cartomante aconteceram realmente. Casou-se naquele ano e ocorreu o falecimento de seu pai

Já “moça feita”, adentrando-se para além dos vinte anos, ela era mencionada entre os parentes e conhecidos como muito bonita e elegante, andando sempre bem vestida, pois a mãe, dona Rosinha, era quem fazia as roupas para ela como para toda a família.

Era uma ajudante infatigável da mãe e do pai nas lides da chácara. Cozinhar, lavar roupa, fornear todas as semanas, alimentar as galinhas e porcos, costurar roupas — eram tarefas que mãe e filha dividiam com parzer e alegria.

Aprendeu a costurar com a mãe e tornou-se, por sua vez, excelente costureira. As roupas dos rapazes e meninos, todas feitas em casa, de tecidos fortes, iam passando dos filhos maiores para os menores, uma maneira inteligente e efetiva de aproveitamento total.

ANTONIO ROQUE GOBBO e DARCY MOSCHIONI

Belo Horizonte,14 de Junho de 2018

Conto # 1069 da Série INFINITAS HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 20/10/2018
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