1078 -NA OLARIA DE ALPINEU

Elvira Colombarolli – Biografia – Cap. 18

Não havia lugar para a moleza ou preguiça na pequena chácara de Alpineu e Elvira. A renda maior vinha da olaria, atividade que ocupava todo o tempo e esforço do marido. Todos os trabalhos na olaria eram cansativos, desde o buscar barro no “barranco” de terra avermelhada, até a entrega dos tijolos nas construções da cidade. Na olaria do marido os trabalhos eram também pesados e exaustivos. Havia uma série de trabalhos, todos muito pesados, pois lidavam com terra úmida: buscar o barro com o carroção puxado por uma mula vigorosa, passar o barro pela pipa, onde era misturado com certa porção de areia; em seguida, o barro homogeneizado era levado para as proximidades da “banca”, uma rústica mesa de três pés, sobre cujo tampo o “batedor” moldava o tijolo, numa forma, um a um. Os tijolos ainda frescos eram empilhados com espaços para “enxugar” onde ficavam esperando até o ponto de irem para o forno. O forno comportava uma carga de até 4.000 tijolos. Empilhados bem juntos e cobertos com barro fresco. Na parte baixa do forno estavam as bocas do forno, em numero de quatro, que eram atochados de lenha e em seguida punha-se o fogo. Esta parte de queimar os tijolos era ainda mais cansativa: o fogo devia ser mantido por dois dias e duas noites. Assim, acendido na manhã de uma segunda feira, (por exemplo), ficava aceso até quarta de manhã. Todos os trabalhadores na olaria deveriam ficar atentos ao fogo, dia e noite, paralisando-se os outros serviços. Os que ficavam à noite deviam ter cuidado especial, não podiam sair repentinamente de perto do forno, pois se o fizessem e tomassem a friagem da madrugada, estavam sujeitos a se estuporarem, (1) Finalmente, havia de se retirar as brasas do forno, puxando-as com enxadas de longos cabos, de até cinco metros, pois os fornos eram profundos. Deixar o forno esfriar e os tijolos estavam prontos para serem negociados aos milheiros. Elvira acompanhava de perto as atividades do marido e de todos os ajudantes, principalmente nas noites quando os tijolos eram queimados. Preparava uma grande cesta com pães, quitandas, café, leite quente, com canecas e xícaras, e levava à olaria, três ou quatro vezes naquelas noites de vigília cuidadosa. Eram momentos de descontração para todos e os ajudantes prezavam muito a “patroa”, dona Elvira. A produção de tijolos apresentava razoável margem de lucro no tempo da seca, mas diminuía muito na época “das águas”. Naqueles tempos o ano só tinha duas estações, que eram a época das águas e a estação da seca. No período das chuvas as construções na cidade, todas de alvenaria, ficavam praticamente suspensas, e a procura de títulos diminuía tanto que a atividade na olaria ficava praticamente suspensa. Mesmo produzindo muito pouco, os tijolos estocados era um fator negativo, pois a umidade era grande, os tijolos não se enxugavam e empenavam-se, entortavam-se antes de irem ao forno. Prejuízo na certa. Embora os serviços na olaria diminuíssem, com a chuvarada ficava difícil também cuidar do pomar, da horta e das plantações em geral. Por isso, as diversificadas atividades de Elvira, sempre ajudadas pelos filhos e por Alpineu, quando a olaria parava, eram importantes para a manutenção da família. Há um fato pitoresco relacionado com a olaria, que ficava na parte mais baixa da chácara, quase à margem do córrego que corria na propriedade, distante talvez uns quinhentos metros da casa de morada. Elvira tinha brilhante comunicação oral ao chamar seu marido e os filhos para vir almoçar, tomar café. Chegava à janela dos fundos da casa em direção à olaria e gritava “Pineu vem tomar café”. Este grito era ouvido pelos vizinhos que, de brincadeira, imitavam-na. -.-.-.-.-.-.-. (1) estuporar= perder o movimento de parte do corpo permanentemente devido a mudanças bruscas de temperatura. tipo: passar roupa e logo após abrir o refrigerador, a mudança de temperatura brusca pode ocasionar a paralisia nos movimentos das mãos.

ANTONIO ROQUE GOBBO e DARCY MOSCHIONI

Belo Horizonte, 3 de julho de 2018.

Conto # 1078 da Série INFINITAS HISTÓRIAS

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Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 25/10/2018
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