El Negro Zaía

Se você não andou pela rua do Arto, hoje, a Velho da Taipa, ou foi ligado ao futebol, pouca chance teria de vê-lo, ainda que seu nome, sua fama, corriam de boca em boca. E não pouca...

Seu métier era a bola. Embora beque, sem chance do brilho e da empolgação dos atacantes, tinha um porte que faria o grande Obdulio Varela levá-lo para a sua Celeste Olímpica. Passando de barco ou de avião ao largo dos territórios sulinos para evitar provocações...que só amainaram quando Flávio e Arlindo se impuseram por sua classe incontrastável.

Mas o Zaía, se do Arto saía, era para ir ao Estádio Iraci Severino, o do Clube Atlético Pitanguiense, o CAP, alvi-rubro das zelites, mostrar a sua raça. O futebol sempre lhe foi democrático, ainda que democrítico...

Pouco ou quase nada tive de contato com aquele mourão de ébano, seja na cancha, seja atrás do balcão do açougue quiçá mais tradicional da cidade, o único, aliás a ter uma balança sem fiel...a FielLizzola...A carne andava cara e papai é que sabia comprá-la, embora nunca, naqueles tempos, sabia não ter como ir além do coxão mole...a carne era mesmo aristocrática...

E voltemos ao Zaía, que dentro de seu métier, com ele me deparei um dia: justamente no Chapadão, no antigo campo de aviação, hoje tudo urbanizado, em que meu time de rua, jogando pelada, informalmente, encontrou o seu pela frente. Cheio de meninos robustos à sua volta, o Zaía foi taxativo, e fidalgo ao ordenar à sua tropa, nitida e fisicamente superior à nossa:

- Gêra, Zé da Ninha, Zequita, vamo tirá as ferradura...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 26/10/2018
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