1079-MOINHO NO CAMPO DE PAPOULAS

Elvira Colombarolli – Biografia – Cap. 19

Um dos lugares mais bonitos da chacrinha era o campo de arroz, verdejante ao brotar as pequenas folhas pontiagudas e completamente dourado no final do ciclo¸ quando os cachos balançavam-se ao vento, pedindo para serem colhidos.

O campinho de arroz era pequeno, talvez meio alqueire de chão plano e de fértil terra preta.

Ao fundo, ficava o moinho de fubá, pequena construção de alvenaria, com as paredes brancas e o telhado vermelho; movimentado por uma roda d’água que ficava escondida dos olhares rápidos e só se revelava quando se chegava ao córrego, que movimentava a grande roda.

O moinho de fubá, como o nome diz, triturava os grãos de milho, pulverizando-os sob a forma de fubá. Fino, muito fino, de um amarelo vivo, era o ingrediente preferido de Elvira para as quitandas, broas e bolos, num tempo de escassez de farinha de trigo, devido à segunda guerra mundial.

O moinho trabalhava dia e noite moendo milho para Elvira e muitas vezes, moendo milho levado pelos vizinhos. O processo de remuneração era interessante: dois litros de milho por um litro de fubá.

O moinho havia sido construído por Aníbal, pai de Alpineu e sogro de Elvira. Era, portanto, bastante antigo, mas funcionou sempre à perfeição.

Houve um ano em que Alpineu resolveu comprar semente de um novo tipo de arroz. Usualmente, plantava o arroz cateto vermelho, de grãos curtos, pelo arroz agulha, de cultura mais exigente. Comprou na cidade uns dez litros de semente e semeou o campinho. Não reparou, ao semear, que entre as sementes de arroz havia algumas outras sementinhas, bem miúdas, quase que invisíveis.

Qual não foi a surpresa quando viu, ao germinar o arroz, nasceram também pés de outra plantinha. Como elas estavam juntas dos pés de arroz, foi impossível arrancá-las sem prejudicar o arroz. Ao crescerem, Elvira foi a primeira a identificar a “praga”: eram pés de papoulas, que, naquele tempo, eram cultivadas em jardins e vasos.

Cresceram juntos arroz e papoula. As papoulas floriram entre o arrozal e a paisagem ficou maravilhosa de se ver: o campo de arroz verde-esmeralda mesclado com o vermelho vivo das papoulas e no fundo o moinho de fubá, com suas paredes brancas.

Elvira, caprichosa, colhia as flores vermelhas todas as vezes que ia ao moinho buscar fubá e enfeitava sua mesa da copa com umas jarrinhas de papoulas recém-colhidas do arrozal.

ANTONIO ROQUE GOBBO e DARCY MOSCHIONI

Belo Horizonte, 3 de julho de 2018.

Conto # 1079 da Série INFINITAS HISTÓRIAS

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Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 06/11/2018
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