Memórias de infância

Tenho muita saudade do tempo em que acampava na praia junto com meus pais e irmãos. Isso era sagrado nas férias.

Até hoje, me pergunto, como meu pai conseguia colocar tantas coisas num Fusquinha 68?

Éramos cinco pessoas levando uma barraca de 7 lugares (num bagageiro), fogareiro, lampião, roupas de cama, produtos de higiene, mantimentos e pouquíssimas roupas (já que ficávamos com roupa de praia o dia inteiro). Meu pai era mestre em saber "malocar" tudo dentro do fusca.

Era um acampamento "selvagem", sem luxos, comendo comida com areia, tomando banho de cachoeira para retirar a água salgada, fazendo as "necessidades" dentro do mar. Eu achava tudo o máximo!

Lembro-me de pegar tatuís enterrados na areia (coisa rara hj em dia por conta da poluição!), dos barcos voltando da pesca e eu tentando reconhecer os peixes (e tendo pena deles!), das lanternas no mar (para capturar lulas), dos sarrafos que, às vezes, voltavam quase vazios.

Amava os dias nublados, nuvens cinzentas em dias de chuva.

Nos dias de temporais, ao mesmo tempo em que ficava amedrontada, gostava de sentir toda fúria da ventania bater no plástico da barraca quase arrancando-a da areia. A ventania no mar sempre me concedeu um grande fascínio e podia sentir sua força dentro de mim.

Amava sentir o vento no rosto com cheiro de mar e as gotículas que flutuavam no ar.

Ficava horas e horas contemplando as estrelas, catando conchas e pedras para minha coleção e tentava extrair o melhor de cada instante. Acho que, por isso, criei um vínculo muito forte com o mar.

E não tinha nada que me fizesse mais feliz e, em paz, do que vislumbrar o pôr-do-sol. Sentava na areia e virava um momento de contemplação e meditação (mesmo sem eu saber). Um espetáculo ímpar da natureza e que a correria do dia-a-dia nos impede de desfrutar.

Nessa época, eu tinha menos de 10 anos de idade, mas já tinha um olhar, uma sensibilidade e uma introspecção que me são peculiares até hoje.