MAURICIO DE SOUSA
Quadrinhos do Brasil para o mundo


   Qual a receita para o sucesso de Mauricio de Sousa, o criador de quadrinhos brasileiro mais publicado e reconhecido no mundo? O garoto que nasceu na pequena Santa Isabel, no interior paulista, em 27 de outubro de 1935, cresceu na pacata Mogi das Cruzes e decidiu ganhar a vida como desenhista, aos 19 anos, migrando para São Paulo, acabou por construir um verdadeiro império. Mais relevante que isso, criou personagens e histórias que embalaram várias gerações de brasileiros ao longo de sessenta anos. Conquistar o mundo era um passo, até certo ponto, previsível.
   Mauricio demonstrava talento para o desenho desde cedo. Filho de um casal de poetas, Antônio Mauricio e Petronilha Araújo de Sousa, o garoto usava os cadernos de escola como campo livre para a imaginação. Não demorou muito a surgir o primeiro personagem, Capitão Picolé. Enquanto crescia, começou a ganhar dinheiro, desenhando cartazes para os comércios locais. De fato, desenhista e empreendedor surgiram e se desenvolveram juntos.
   Em São Paulo, em 1954, as coisas não correram como Mauricio esperava. A entrevista de emprego na Folha da Tarde, aonde levara seu portfólio, acabou com uma negativa sumária. Foi aconselhado por um experiente jornalista a não desistir – e sim, tentar emprego em outra área do jornal. Lá dentro, seria mais fácil de crescer. E Maurício acabou se tornando repórter de polícia, o que, segundo ele, ajudou a desenvolver seu texto. Quando faltava foto do caso, fazia ilustrações, e, com isso, chamou a atenção.
   Foram cinco anos até que Maurício conseguisse, em 1959, publicar sua primeira tirinha – uma história com Bidu e Franjinha, os primeiros personagens de sua turma. Os outros foram surgindo: Cebolinha, em 1960, e Cascão, no ano seguinte, inspirados em amigos de um dos irmãos de Mauricio. Mônica, que pela personalidade forte se tornaria a líder da turma, surgiu em 1963. Ela e Magali foram as primeiras personagens inspiradas em filhos de Mauricio – o que também virou uma marca do autor. O mais recente, Marcelinho, surgiu da observação do caçula de seus dez filhos.
   Do final dos anos 1960 até hoje, as revistas e tirinhas dos personagens de Mauricio se tornaram onipresentes. Foram publicadas por grandes editoras como Abril, Globo e Panini. Com a Mauricio de Sousa Produções, ele começou a investir em produtos para o mercado audiovisual. Visando renovar o público, Mauricio criou a Turma da Mônica Jovem, mais próxima da linguagem do mangá, e investiu na mídia digital. A empresa se tornou líder em licenciamento de produtos, setor que, aliás, é gerido por ninguém menos que Mônica, a de carne e osso, filha de Mauricio. 
   Além de Mônica, outros cinco filhos de Mauricio e uma neta já ocupam posições-chave na empresa, permitindo que o criador da família e dos personagens consiga se afastar aos poucos. A Turma da Mônica chegou a ter parques temáticos. Levados ao mundo, os personagens conquistaram leitores fieis, especialmente no mercado asiático e nos países lusófonos, e as histórias são sempre publicadas sem adaptações, apenas tradução. São mais de 50 países e mais de um bilhão de exemplares de revistas vendidos.

(Parte da coletânea FERAS DOS QUADRINHOS, em produção, de William Mendonça. Direitos reservados.)