SANDY DENNIS

MUITO OBRIGADA A TODOS

- Você tem uma maneira muito peculiar de interpretar!

- Acha?

-Tenho a certeza.A forma como liga as palavras quando as pronuncia e a maneira como termina ou inicia as frases e faz uma pausa inesperadamente, por vezes subindo e descendo uma oitava … para não falar como mexe as mãos enquanto fala.

- A sério? – fingindo-se espantada.

- O Walter Kerr até observou que a Sandy trata as frases como coisas pobres, fracas e injuriadas que precisam de ser ajudadas a atravessar a rua.

- Que horror!Ele disse isso? – e ela fez menção de soltar uma gargalhada mas conteve-se.

Basicamente ela não queria ser ela.Não pretendia viver a vida que lhe teria cabido em sorte na América profunda.A representação foi uma paixão , um escape e foi tudo e nada.

Como foi afinal que a sua carreira aconteceu?

Aluna aplicada, conseguiu ingressar na Universidade e estudar Drama.Tornou-se viciada em Stanislavsky, seguidora fiel e entusiasmada do Actors Studio e do seu tão preconizado Método.

As oportunidades começaram com Elia Kazan e em pequenos papeis na Broadway.Mas rapidamente a sua determinação, maneirismos e personalidade singulares foram notados.

O sucesso acabou por vir com alguma naturalidade e rapidez.Uma peça tornada um êxito,”Mil palhaços”,e a conquista dos famosos Tonys Awards.Aprendeu muito na contracena com actores como Jason Robards e Michael Redgrave.

Mas aos poucos os papeis sucediam e ela materializava-se neles de uma forma inusitada, trazia-os ao público segundo uma nova e diferente perspectiva, criava figuras que tocavam pela sua fragilidade versus tenacidade e era impressionante a densidade neurótica com que ela os tomava de um fôlego.

Talvez por isso tenha conseguido sobreviver ao furacão do par Taylor/ Burton e ao charme e looks de George Segal e não ser pura e simplesmente cilindrada no filme “Quem tem medo de Virginia Woolf?”.A sua Honey em plena tempestade dramática e emocional sob a pena de Edward Albee atingiu laivos de genialidade à medida que a personagem se deixa embriagar pela noite dentro.Ganhou o Óscar de Melhor Actriz num papel secundário pelo seu desempenho.

E passou com distinção no Tchekov com Geraldine Page e Kim Stanley,duas grandes actrizes.O seu amor por Ellen/Anne Heywood em “A Raposa”e o seu suicídio acusatório quando a árvore gigantesca é derrubada pelo rival(Keir Dullea) ressalta excruciante e belo no meio da paisagem de neve.

Conseguiu comover as audiências com um “Doce Novembro” terno e triste e nessa altura ela, Sandy Dennis - a actriz e a personagem - talvez se confundissem e fosse tão difícil dissociá-las.Mãe solteira ou solteirona frustada , vítima ou homicida reservava a surpresa e a atenção ,levando o espectador a observar o seu lado mais negro e vulnerável.

E não importava que se deixasse fotografar com gatos em cima da cabeça, um saxofonista como namorado relutante ou em gestos cúmplices com Brendas com as quais talvez partilhasse intimidades, a interpretação que dava era sempre magnética e electrizante.

Teatro, Cinema e Televisão – uma carreira preenchida.Defrontada com meia dúzia de realizadores tão talentosos como Robert Altman, Mark Rydell, Woody Allen ou Sean Penn e estrelas como Cher e Karen Black na memória de uma noite louca como coprotagonistas.

Mesmo os críticos não se entendiam e tinham alguma dificuldade em catalogá-la.Ela era diferente.

Não gostaria de homens nem de mulheres, em particular mas tão somente de pessoas! - como muitas das grandes personalidades da Arte e da História… não seria decerto por aí que atraía as atenções mas pela sua personalidade e talento invulgar.

Quando a morte sobreveio cedo a par com o sofrimento e a dôr de um cancro implacável, mal teve tempo para suspirar e sorrir naquele jeito contrafeito, irresistível, celebrizado no grande écran e conseguir dar a deixa, o título de um dos seus filmes:

- “Thank you all… very much”(Muito Obrigada a Todos).