O MARINHEIRO DO SERTÃO

"Marinheiro só

Quem te ensinou a navegar?

Marinheiro só

Ou foi o tombo do navio?

Marinheiro só

Ou foi o balanço do mar?

Ó, marinheiro, marinheiro".

MOACIR COSTA LOPES nasceu em 1927, em Quixadá, a cidade dos monólitos, nos sertões do Ceará. Longe do mar. Leitor compulsivo de literatura de cordel e folhetins. Alistou-se na Escola de Aprendizes de Marinheiro do Ceará, em 1942. Viajou por vários países, sem imaginar que, um dia, seus livros e seus personagens viajariam muito mais do que ele. Para saciar a sua sede de leitura, em cada navio organizava uma biblioteca com doações de livros. Leitor compulsivo, escritor compulsivo. Escrever é preciso. Qual o assunto ? O Mar e suas gentes. Ilhas, praias, faróis, navios perdidos, lugares enfeitiçados. Homens e mulheres náufragos da vida, ancorados no Cais, Saudade em Pedra. Maria de Cada Porto, As Fêmeas da Ilha da Trindade, A Ostra e o Vento. Marcela, Saulo, Selene, Emiliano, Daniel, Zeca da Curva. Capitão Dario e Lorena, que sabem Onde Repousam os Náufragos. João Cândido, exemplo de coragem e dedicação à causa da liberdade.

O marinheiro só, amigo de Luis da Câmara Cascudo e Jorge Amado, que o elegeu "o romancista do mar", declarando que "Seus personagens não vivem problemas artificiais...são de carne e osso, nós os conhecemos e neles reconhecemos gente e povo".

O marinheiro do sertão pediu baixa da Marinha do Brasil, em 1950, mas continuou pertencendo ao mar. Leu os escritos do Passageiro da Nau Catarineta. Seguiu ou foi seguido por Sumé, o velho aguadeiro, no Parque das Sete Cidades, que dizem já foi mar e Por Lá Não Passaram Rebanhos. Parque coberto de rochas que lembram o Curral das Pedras, a sua Quixadá. Sonhou e contou a As Viagens de Poti, o Marujinho. O vento, o tempo, a natureza, a luta pela sobrevivência. Canudos e seu capitão, Antonio Conselheiro, profetizando : o sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão.

O sertanejo-marinheiro, o marinheiro-escritor, o escritor-professor, partiu em 2010, por mares nunca dantes navegados, sem bússola, sem lenço, sem documento.

Malinche
Enviado por Malinche em 17/07/2019
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