Andarilho

Quando saí da roça, diante do sol que castigava, levava comigo meus livros, algum medo e a vontade. Eu olhava para o céu, e perguntava: por quê Deus? Eu queria ser grande, mas continuar pequena, eu queria sair daquele lugar que me prendia, mas eu queria voltar para ele. O cheiro da terra molhada, o barulho da chuva, a alegria de plantar, se faziam riqueza, realização e calmaria. Eu queria ter a minha dignidade, mas não queria perder a minha essência. Eu vi de tudo na estrada, eu senti o que era ser invisível, o que era ser pequena, mas nada me fazia desistir, nas caronas da vida, eu pude ser mais humana. E, Deus continuava dizendo: “segue menina, você tem um mundo para descobrir”. Eu segui seus conselhos, parecia um caminho sem fim, mas ao mesmo tempo, uma paz tomava meu coração.

Eu penei, mas aqui cheguei. Cheguei e volto, e olho para quando não era, para quando a esperança ainda fraquejava, mas ainda existia a voz de Deus que sussurrava: “segue menina, você está chegando lá”, eu procurava a tua mão, quando parecia estar sozinha, quando eu buscava forças para recomeçar. Eu te encontrei. Em meio ao desalento, surgia a alegria, eu sentia, que o sonho corria ao meu encontro.Com voracidade eu segui de peito aberto, hoje eu te encontro, sonho, hoje eu te vivo, hoje eu não acredito. Eu quero continuar não acreditando, eu quero continuar pequena na construção de um grande sonho, um ideal, um projeto de sociedade que seja de todos, que contemplem os esfarrapados do mundo, aqueles que têm a sua existência negada, que se descubram na negação, que digam sim ao mundo em toda a sua contradição.

Andrade Maria
Enviado por Andrade Maria em 19/07/2019
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