H. G. WELLS
Sempre à frente de seu tempo


   Poucos escritores podem ser chamados de pioneiros em algum gênero literário – o que, certamente, se aplica ao inglês Herbert George Wells. Nascido em Bromley, Kent, em 21 de setembro de 1866, H.G. Wells diferenciou-se do popularíssimo Júlio Verne, que escreveu grandes aventuras de ficção científica, por criar romances de tese. Assim como o francês, Wells tinha aquela capacidade profética que parece mágica aos leitores, mas é fruto da observação dos rumos da ciência. Escreveu mais de uma centena de livros, entre ficção e não ficção, e foi notório também como historiador em seu tempo.
   Wells era filho de um jogador de críquete profissional. A família enfrentou dificuldades depois que o pai encerrou a carreira precocemente, após uma contusão. Formou-se em Biologia, pela Universidade de Londres. Aos 25 anos, casou-se com uma prima, Isabel Mary Wells, mas o relacionamento terminou três anos depois. Depois do divórcio, Wells casou com uma de suas alunas, Amy Catherine Robbins. Ela aturou os vários e escandalosos relacionamentos extraconjugais do escritor, e vários filhos ilegítimos.
   Afora isso, Wells criou a base da ficção científica do século XX, com romances fundamentais de algumas vertentes do gênero. Seu segundo romance, “A Máquina do Tempo” (1895), é o primeiro a abordar a viagem no tempo com base na ciência. Socialista, Wells leva o conflito de classes ao extremo no futuro longínquo, em que os pacíficos Elois e os subterrâneos Morlocks são dois caminhos da evolução humana, e um serve de gado para o outro.
   Em 1897, lançou “O homem invisível”, que, ao lado de “O médico e o monstro”, lançado uma década antes por Stevenson, abordou os efeitos da ciência e dos poderes fora de controle. No entanto, o protagonista de Wells lida com a ética e a moral, ao ficar invisível e poder fazer o que quiser. Em “A ilha do Dr. Moreau”, que Wells publicou no ano anterior, o escritor já abordava os dilemas éticos da ciência, com o médico que criava monstros, tentando transformar animais em homens. 
   Wells também pode ser considerado o pioneiro na vertente da guerra interplanetária – com sua impactante invasão marciana à Terra em “A Guerra dos Mundos” (1998). Ele imaginou o que aconteceria se invasores de outro planeta tratassem os humanos com a mesma crueldade e desprezo que o Império Britânico tratava povos nativos, como o povo da Tasmânia, vítima de um genocídio. Em 1938, um jovem Orson Welles parou os Estados Unidos com uma versão radiofônica do texto, provocando pânico generalizado. E os dois chegaram a se conhecer.
   O escritor é considerado o pai do termo, e talvez da ideia, da bomba atômica, em seu livro de 1914 “The World Set Free”. Também acertou a data de início da 2ª Guerra Mundial. Pacifista, Wells foi criador de jogos de guerra e escreveu livros sobre o tema. Ele estava na lista de intelectuais britânicos que seriam executados pelos nazistas, em caso da concretização da tomada do Reino Unido por Hitler. Morreu em 13 de agosto de 1946, um ano depois das bombas norte-americanas destruírem as cidades de Hiroshima e Nagasaki.

(Parte da coletânea ESCRITORES DE SCI-FI, FANTASIA E AFINS, de William Mendonça. Direitos reservados.)