Vida e legado do poeta português Jorge de Sena
Jorge Cândido de Sena foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português. Nasceu dia 02 de novembro de 1919 em Lisboa, Portugal. Contudo, foi naturalizado brasileiro em 1963. Filho único de Augusto Raposo de Sena e Maria da Luz Telles Grilo de Sena, ambos pertenciam à alta burguesia, família paterna supostamente descendente de militares aristocráticos e a família materna, de grandes comerciantes do Porto. Durante os seus primeiros anos de vida escolar, Sena estudou no Colégio Vasco da Gama. Em seguida, nos anos secundários, o poeta concluiu seus estudos no Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho – professor e poeta português, mais conhecido por meio de seu pseudônimo António Gedeão. Desde sua juventude, Sena, demonstrava interesse pela Literatura, além de ler desejosamente, escrevia poemas. Ademais, em 1938, aos 17 anos, entrou para a Escola Naval como 1º do seu curso, contudo, o escritor não teve o sucesso que almejava.
Apoiado financeiramente por amigos, Sena ingressou na Faculdade de Engenharia do Porto, para cursar Engenharia Civil em 1940, concluindo-se em 1944. Nesse meio tempo, o ficcionista, dedicou-se a escrever poemas, artigos, ensaios e cartas. Sob o pseudônimo de Teles de Abreu, publicou seus primeiros poemas na revista “Caderno de Poesia” e, em 1942, publica o seu primeiro livro de poemas, Perseguição. Em 1947, Sena iniciou sua carreira de engenheiro civil que durou aproximadamente 14 anos. Trabalhou como engenheiro civil na Câmara Municipal de Lisboa, na Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização e na Junta Autônoma das Estradas (JAE), onde permaneceu até ao seu exílio para o Brasil em 1959. Depois de três anos como engenheiro, Jorge de Sena casou-se em 1949, com a irmã do crítico e historiador literário Óscar Lopes – Maria Mécia de Freitas Lopes – juntos tiveram 09 filhos. O poeta trabalhava arduamente para sustentar toda família, porém, sua situação como escritor e até mesmo cidadão foi ficando insustentável devido aos problemas relacionados com Salazar – estadista nacionalista português que, além de chefiar diversos ministérios, foi presidente do Conselho de Ministros do governo ditatorial do Estado Novo – uma vez que, censurava e oprimia a sua literatura. Além disso, o ensaísta não pertencia a nenhum círculo acadêmico, o que era muito comum à sua época e, também não tinha apoio intelectual de nenhum dos estudiosos, causando assim uma grande frustração, insatisfação e crises durante sua jornada.
Em agosto de 1959, Jorge Cândido de Sena viajou para o Brasil a convite da Universidade da Bahia e do Governo Brasileiro para participar do IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Ainda, foi convidado como catedrático – Professor titular de escolas secundárias e superiores, geralmente admitido mediante concurso. Indivíduo que conhece a fundo determinado assunto – contratado de Teoria da Literatura, em Assis, no Estado de São Paulo. Logo, Sena aproveitou essa oportunidade e aceitou o lugar, iniciando assim o seu longo exílio no Brasil. Por motivos profissionais teve de adotar a cidadania brasileira, sendo nacionalizado brasileiro em 1963, apesar de sentir falta de seu lugar de origem, o crítico guardava consigo muito rancor da forma como fora tratado durante os anos que lá passou. Em 1961, Sena lecionou Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Agora que tinha mais tempo para consolidar a sua carreira como escritor, o poeta dedicou-se aos estudos e em 1964, defendeu a sua tese de doutoramento em Letras (Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular), tendo obtido os títulos acadêmicos "com distinção e louvor".
Os anos que o professor universitário passou lecionando e estudando no Brasil, foram muito proveitosos. Entretanto, a instalação da Ditadura Militar, em março de 1964, fez com que Jorge de Sena aceitasse um convite para ensinar Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, indo embora do Brasil em outubro de 1965. Apesar da satisfação com a docência, o poeta era infeliz e solitário, queixando-se de sua infelicidade e desvalorização no meio burguês literário. Enquanto Jorge de Sena estava abatido nos Estados Unidos, as coisas em Portugal estavam a todo vapor com a revolução de abril – evento histórico de Portugal, resultante do movimento político e social, ocorrido em 25 de abril de 1974, que derrubou o regime ditatorial do Estado Novo ou salazarismo, imposto por António de Oliveira Salazar, vigente desde 1933, iniciando-se a implantação de um regime democrático, criando a nova Constituição de 25 de abril de 1976, marcada por forte orientação socialista. Na esperança de conseguir reconhecimento em seu país de origem, o ficcionista decidiu regressar definitivamente para Portugal, a fim de colaborar com a construção do novo sistema adotado. Porém, quando regressou a Portugal, o escritor não foi convidado a nenhum evento, amargurado e desiludido, Sena voltou aos Estados Unidos e faleceu aos 58 anos, em 04 de junho de 1978, na cidade de Santa Barbara, na Califórnia.
A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena. Suas obras são monumentais e multifacetadas, suas poesias dialogavam com as poesias de Camões e de Fernando Pessoa. Admirador de Camões, Sena publicou vários trabalhos sobre o poeta, trabalhos nos quais, analisava o poeta renascentista, assim sendo um precursor nos estudos camonianos portugueses.
Jorge Cândido de Sena foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX e, apesar de não ser filiado a nenhum movimento literário, destacou-se conforme a técnica surrealista em suas obras que desafiavam e desarticulavam a sintaxe. Contudo, as características modernas em sua poesia notoriamente o ajudou. No entanto, Sena não se restringiu apenas em sua poesia, como também deu espaço para a produção de prosa de ficção, teatro, crítica e historiografias literárias. A poesia portuguesa da década de 50, renovou-se com o ressurgimento do movimento vanguardista – conjuntos de movimentos artísticos-culturais, sendo as cinco principais correntes vanguardistas: futurismo, cubismo, dadaísmo, expressionismo e surrealismo – interligada agora com o movimento neorrealista. E com isso, deu mais espaço ao trabalho do poeta singular Jorge de Sena.
Thayla Haider
Enviado por Thayla Haider em 31/05/2021
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