TATIANA MÁRCIA: DO CHÃO AO CÉU, A HISTÓRIA DA BAILARINA QUE APRENDEU A VOAR

Não se engane: apesar de seus apenas 1,63 de altura, Tatiana Márcia Souza Melo, da Cia Tatiana’s Ballet, é uma mulher que voa alto. Não nasceu para ficar no chão. Seu corpo habita o ar. E isso não é apenas uma metáfora: ela passa a maior parte do dia flutuando no ar, com seus saltos e coreografias.

Proprietária da Cia Tatiana’s Ballet, ela dedica mais de doze horas do dia aos seus 135 alunos. São aprendizes de bailarinos e bailarinas de todas as idades. Desde bebês de um ano e meio até senhoras já idosas. Tatiana usa uma técnica infalível para ensinar: experiência de veterana e entusiasmo de iniciante.

Hoje, ela é dona de uma estrutura muito ampla e boa, com capacidade para atender com excelência até 150 alunos. Sua escola de balé é um espaço arejado e construído dentro de padrões internacionais de centros de dança. É um troféu a mais dentro da imensa coleção da professora e bailarina. É um troféu que ela conquistou com outra faceta que teve que aprender a desenvolver: seu lado empreendedora.

O BALÉ DOS NEGÓCIOS

Para que tudo funcione em perfeita harmonia no palco, para que os alunos e alunas tenham plenas condições de aprendizado dentro da atual estrutura, foi preciso que Tatiana aprendesse a ser mais que uma artista, mais que uma atleta. Foi preciso que ela aprendesse a dançar com números, com planilhas, com o mundo nada sincronizado das finanças.

A escola é um local dedicado à dança clássica, que é uma mistura de arte com esporte. Mas é também um negócio, é de lá que Tatiana tira o pão de cada dia e coloca na sua mesa. Essa parte não é realizada vestindo collant e tutu e calçando sapatilhas. É a parte em que ela veste o figurino de empreendedora e vai bater em portas de empresas para firmar parcerias. É a parte que exige criatividade para bolar uma coreografia para captar novos alunos e pagar os boletos da empresa. Com essa mentalidade ele conseguiu parceria da Jalles Machado como patrocinadora máster da escola e a confiança de mais de 100 famílias que levam seus filhos todos os dias para as aulas.

A empresa conta com quatro funcionárias de carteira assinada: uma secretária e três professoras. Além disso, há uma prestadora de serviço, que atua na área de serviços gerais. “Não é fácil empreender sendo mulher. E principalmente na área da arte. Aí tudo se torna ainda mais difícil. Venho lutando há anos por espaço e respeito. Graças a Deus isso está acontecendo. Mas não foi fácil”, diz Tatiana.

HISTÓRIA CONSTRUÍDA COM LÁGRIMAS

E não foi fácil mesmo. Sua história é feita de muitos dramas. Começou a dançar balé com dois anos de idade. Influenciada pela mãe. Sua mãe fora adotada aos sete anos de vida. Foi deixada na casa de uma família por sua avó. Some-se a isso o fato de Tatiana ter vivido até pouco tempo atrás sem conhecer seu pai biológico.

“Vim de Goiânia para Goianésia aos 18 anos de idade para tentar superar uma fase muito difícil da minha vida. Vim logo após a morte do meu avô de criação e foi um momento de muito abalo emocional e psicológico. Cheguei a ficar internada em uma clínica e fazer tratamento para depressão por quase um ano. Foi através do meu trabalho que eu consegui superar toda essa dor”, releva o momento que começou a sair do fundo do poço, para brilhar.

QUANDO O SONHO COMEÇA A SE TORNAR REALIDADE

Tatiana, no entanto, nasceu para voar e não para ficar prostrada no chão. Por isso, nunca deixou de ensaiar seus passos no palco. E nunca parou de estudar. Cursou Educação Física (e depois fez pós-graduação em Psicopedagogia Clínica e Institucional e atualmente conclui uma pós em Dança). Via na educação a luz no fim do túnel. Ainda bem jovem, bateu às portas da prefeitura e teve o apoio que precisava para iniciar um projeto social com crianças de baixa renda no Centro Cultural. Estava ensinando meninas carentes a serem bailarinas clássicas. Era uma realização pessoal muito grande.

Além de Otávio Lage de Siqueira Filho, o Otavinho – que era o prefeito na época – ela teve muito apoio da maestra Vilma Aparecida, da Cia Tereza Raquel, de Jaraguá. “Sempre será uma grande mãe e influenciadora em toda a minha jornada. Tudo o que sei e onde estou eu devo muito a essa grande mulher”, relembra Tatiana.

O projeto deu tão certo que ela começou a sonhar com um espaço que pudesse chamar de seu. Mas Tatiana não era da cidade, não tinha dinheiro no bolso, não tinha crédito no banco. De seu apenas o talento, o sonho e muita vontade de trabalhar. Foi o suficiente. A família de Leonardo Sousa, seu namorado na época, lhe estendeu a mão e deu um grande incentivo, inclusive financeiro. E ela passou a ter uma escola de balé. O tempo passou e a menina miúda que veio de fora se tornou mulher, passou a ser reconhecida como um orgulho de Goianésia, alguém que leva o nome da cidade para os palcos do mundo.

UMA PROFISSIONAL QUE SEMPRE QUER MAIS

Tatiana é o tipo de profissional que não se acomoda um só minuto. Está sempre tentando coisas novas, buscando fazer o impossível. Já ganhou concurso nacional com o diretor Caio Nunes, coreógrafo da TV Globo. Venceu também inúmeras premiações em festivais nacionais e internacionais. Sua prateleira está pequena para tantos troféus e medalhas.

Ela ganha, mas principalmente faz sua equipe ganhar. Só no ano passado – mesmo com a pandemia destroçando o mundo – os bailarinos da Cia Tatiana Ballet conquistaram 45 prêmios e foram destaques nos melhores festivais do Brasil.

Se reinventar para tentar voos maiores tem sido uma coreografia nova que a empreendedora Tatiana Márcia tem desenvolvido durante a pandemia. A Cia Tatiana Ballet foi a única escola de dança do país a dar conta de realizar um espetáculo de fim de ano com 100 bailarinos, do infantil ao advanced. De forma on-line, mas conseguiu.

NOVOS VOOS

A pandemia trouxe a ela, do ponto de vista profissional, muitos revezes. Havia acabado de adquirir uma academia só para mulheres, a Club Ela. Teve que abandonar o projeto e amargou perdas financeiras. Deu um passo atrás. Mas se manteve de pé. E fez questão de manter os pés no ar, desenhando movimentos de poesia.

Tatiana é o que se pode chamar de desbravadora. Criou um curso, que está sendo patenteado: o Mom Baby Class (com mãe e filha). O Body Strong já é sua patente. Criou também a Tatiana’s Ballet Store, que é sua loja de roupas e acessórios esportivos há um ano. Os próximos passos são patentear a marca Tatiana’s Ballet e a criação de um software para escolas de dança. Pretende desfrutar das maravilhas do mundo digital para reproduzir seus métodos de ensino.

PARA SEMPRE BAILARINA

Quando alguém questiona Tatiana sobre como se vê daqui a dez anos, por exemplo, ela não titubeia um só minuto para dar a resposta. “Ser bailarina. Acho que serei uma eterna bailarina sempre”, diz, com severa convicção. “Quando dou aula, eu danço; quando escuto uma música, eu danço; quando estou parada eu danço. Tenho isso em minha alma”, diz, revelando o segredo do seu sucesso.

Há outros palcos que também fazem de Tatiana uma mulher realizada. Aos 35 anos, casada há dois anos com o engenheiro Augusto Zucherato Ricciardi, ela diz que acalenta o sonho de ser mãe. “Espero oferecer ao meu filho tudo o que um dia não tive. Família é nossa maior riqueza”, finaliza, com o sorriso de quem está firmemente disposta a nunca mais deixar de voar.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 27/06/2021
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