UM POUCO DE GANDHI

O mundo é místico, mas não incompreensível, e foi feito para todos nós com os mesmos direitos. O direito de viver com simplicidade e bondade. Mas cada ser humano é dotado de um tipo de personalidade, e por isso surgem as desavenças e os desacordos, causando o sofrimento de muitos e o contentamento de poucos.

Foi contra tudo isto que lutou Mohandas Karamchand Gandhi; aclamado Mahatma Gandhi (Grande alma). Indiano de Porbandar, nasceu em dois de outubro de 1869. Era como todo garoto da sua idade, curioso e faceiro. Casou-se com apenas treze anos com uma menina de quatorze anos (Kasturba Gandhi), e ficou ligado aos prazeres da carne, obedecendo somente aos seus instintos. Mas com o passar do tempo assistiu e percebeu em sua concepção de vida, que não poderia assimilar o prazer carnal à sua vida política e espiritual. Depois de já ter muitos filhos, ele e a sua mulher fizeram um acordo de total abstenção sexual, e ficaram vivendo juntos praticamente como irmãos.

Formado em Direito pela Universidade de Londres, voltou para a Índia, mas como era muito tímido, não teve êxito na sua profissão legal de advogado. Então aproveitou uma oportunidade que surgiu, para representar uma firma hindu, em um processo judicial por um ano, e mudou-se para a África do Sul, ficando mesmo depois do término do contrato, pois muitos dos seus conterrâneos sofriam injustiças pela discriminação. Em janeiro de 1897 buscou sua esposa e filhos na Índia.

Sendo capaz e inteligente, lutou pelo seu povo hindu de 1904 a 1914. Diretor da revista Indian Opinion, divulgava a situação dos indianos que eram humilhados e maltratados na África do Sul.

A Índia a par dos movimentos de Gandhi através da imprensa, já aplaudia eufórica as atitudes desse líder pacifista. Muitas pessoas começavam a procurar Gandhi e ofereciam-lhe suas capacidades nessa luta constante. Com isso fundaram uma colônia, que era mais como um retiro espiritual (Ashram), onde todos eram iguais, sem propriedades individuais. Eram abstinentes da carne e de bebidas alcoólicas; faziam trabalhos manuais e agrícolas, e também reuniões cultuais. Tudo isso para o fortalecimento da mente e do espírito. Gandhi transferiu para lá a redação e administração da sua revista, trabalhando com seus aliados.

Esteve na segunda guerra dos Bôeres, em 1899, onde ele e seus amigos ofereciam seus préstimos aos feridos.

Esse pequenino homem às vezes se vestia só com um calção, e calçava um par de sandálias. Se alimentava de poucas frutas e tomava leite de uma cabra que nem era sua. Desprezava as coisas materiais que poderia ter com sua família, mostrando com isso, que para seguirmos um ideal é preciso fazer parte dele integralmente. Vivia assim para sentir com seu povo a dor da injustiça. Usava só do seu amor e das suas duas armas secretas: a “Não violência” e o “Apego à verdade”, para incentivar o seu povo na busca da liberdade. Desobedeceu as leis civis e fez uma greve, onde dezesseis pessoas o acompanharam no início, protestando em silêncio contra o imposto individual, e a lei que invalidava os casamentos realizados segundo a tradição do país. Mais tarde sessenta mil pessoas se juntaram à essa minoria. Muitos foram presos, inclusive Gandhi, enquanto as minas de carvão se encontravam paralisadas. Gandhi tinha o apoio do ex vice-rei da Inglaterra (Lord Handinger), que condenava as atitudes do governo Britânico.

Depois de sua experiência na África, já que tinha conseguido parte dos seus objetivos, Gandhi seguiu para a Índia, a fim de ver de perto as dificuldades do seu país.

Lá foi preso muitas vezes, mas mesmo nos cárceres, transmitia sua força através de manuscritos que entregava a um dos seus aliados, para serem divulgados pela imprensa. Com isso a Índia toda estava com ele. O governo britânico usava das armas materiais que tinha, contra a “Não violência”. Era esse termo tão simples e tão envolvente, que conseguia aos poucos revolucionar o país. E todos indianos apanhavam sem nenhuma reação sequer, ficando machucados, mas satisfeitos pela sua coragem.

Até que num desses movimentos houve o massacre de Amritsar, onde muitos indianos morreram; mulheres e crianças, sem distinção. A revolta foi geral, mas Gandhi como sempre contornava a situação, para a “Não violência”, fazendo seus jejuns até que tudo se normalizasse.

Mas os britânicos insistiram em continuar no domínio da Índia. Sendo assim, criaram no ano de 1930, o monopólio do sal. Cada indiano teria que comprar sal dos agentes do governo, pagando vinte e quatro vezes mais caro do que pagavam no seu comércio.

Por isso Gandhi resolveu pôr em prática seu plano de marchar até a praia do mar, e extrair o sal e oferecê-lo ao povo da Índia. Causando outra revolta dos britânicos, que usavam da única arma que tinham; a violência.

Gandhi foi novamente preso, mas não foi em vão. Eram meia noite de quatorze de agôsto de 1947, em Nova Delhi, quando foi proclamada pelo último governo britânico, a independência nacional da Índia.

O Paquistão que era habitado por muçulmanos foi desmembrado da antiga Índia, e tornou-se também um país independente.

Aí começaram novos conflitos, entre muçulmanos e hindus, por isso muitas pessoas dos dois lados morreram.

Sentido com a situação, Gandhi fez nova greve de fome e quase morreu, para conseguir que os dois países fizessem as pazes.

Estudantes hindus e muçulmanos fizeram passeatas juntos, para que a paz voltasse a reinar. Mas com isso nem todos ficaram contentes, pois uma minoria de conspiradores achavam que a Índia deveria guerrear contra os muçulmanos.

Surgiu então, o primeiro atentado contra Gandhi. Uma bomba explodiu, mas felizmente ninguém se feriu.

O segundo atentado em 30 de janeiro de 1948 foi fatal. O assassino (Nathuram Godse), que considerava Gandhi o inimigo número um da Índia, disparou três tiros contra o Mahatma, e mesmo assim este o perdoou.

Palavras simples e verdadeiras, e gestos humildes. Tudo isso num pequenino homem, que era místico em suas atitudes, e que buscava somente a liberdade do seu povo faminto e sofrido, que se encontravam nas mãos de estranhos.

Mas que força conseguiu este pequeno homem obter; jejuando e negando ao seu corpo, prazeres de que tinha todo o direito.

A vontade de vencer lhe trouxe a força, e com ela adquiriu segurança. Como um homem pode dizer! “Eu nunca fui ofendido”, como se fosse imune às ofensas. Tanto elevou o seu espírito que nada mais pôde derrubá-lo, usando somente da força que tinha em seu interior, a bondade e o amor, que transmitia mesmo quando estava calado.

Este foi Gandhi, assassinado pelo egoísmo, pela falta de amor, e também pelas ambições, que continuam vencendo as emoções. Mais um exemplo de que vencer não é dominar, e sim dividir, pois a vida não foi concebida para tirá-la uns dos outros, e sim para vivermos com igualdade, em todos os sentidos.

Sábio é aquele que move montanhas, usando apenas de um sentimento. Gandhi foi e será sempre para quem conhece a sua história, esse sentimento maravilhoso: “Amor”.

Fernanda Goucher
Enviado por Fernanda Goucher em 12/10/2021
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