MIMI BOÊMIO: A VOZ DO SAMBA

MIMI BOÊMIO: O REI DO SAMBA DO GRANDE ABC PAULISTA

Caráter. Integridade. Assertividade. Comprometimento. Pontualidade. Amoroso, a todos acolhia com seu olhar franco, com seu sorriso cativante. Nasceu na Vila Pires, Santo André, em junho de 1936, passou parte da infância e adolescência na Vila Vivaldi, SBC. Seu pai dominava a viola caipira e o garoto Clementino dividia os dias entre cantorias (o pai recebia músicos sertanejos da época) e os “campinhos” de futebol. Clementino Raimundo aspirava mesmo era ser jogador de futebol. Iniciou envergando camisetas dos times locais, na várzea do Ribeirão dos Meninos e por muito pouco deixou de seguir carreira profissional, devido lesão inoportuna. Nessa época era conhecido como Raimundinho, o jogador parrudo, invocado. Impossibilitado de ser jogador de futebol, abraçou a música, sua segunda paixão. Talento nato, nem imaginava ser dotado do raro ouvido absoluto. Naturalmente começou a cantar e a encantar com seu poderoso vozeirão. Nem precisava se esforçar para imitar Francisco Egídio ou Nelson Gonçalves: Apenas cantava, alegre, leve, solto, com naturalidade. E impressionava a todos. Adotou o nome artístico de Mimi Boêmio, e seguiu cantando e encantando, granjeando simpatias e amigos / seguidores fiéis. Juntou alguns amigos e criou o primeiro Regional. Chegou até a registrar a marca “Garoa Paulista”, nome que criou para um de seus Regionais. O cantor Carlinhos Garoa e o instrumentista Eurídes Paifer (cavaquinho) se recordam bem dessa época, com inúmeras apresentações em diversos Bares Temáticos e Clubes da região. Mimi Boêmio conviveu e se apresentou com todos os grandes músicos do Grande ABC, como Joca (violão 7 cordas), Garcia (bandolim), Gatão (pandeiro), Ditinho do Bandolim, Zé Carlos Masiero (sopro), Lúcio do Bandolim, David Machado (cantor). Centenas de músicos iniciaram suas carreiras musicais incentivados pelas performances de Mimi Boêmio, que se tornou o “Rei da MPB” do Grande ABC”. Dono de extraordinária memória (seria dotado do raríssimo "ouvido absoluto"), podia desfilar mais de 2.000 registros musicais horas seguidas, sem errar um único tom ou esquecer uma palavra de cada canção. Transitava facilmente do Chorinho tradicional ao Bolero, passando com galhardia pelo Samba, Baião e Bossa Nova. Todos os músicos da região admiravam Mimi Boêmio, que sempre foi exaltado pela imprensa local. Octogenário, continuava firme cantando e comandando shows com seu "Regional dos Amigos", que se revezam a cada apresentação. Nos últimos tempos a base era o Edsinho 7 Cordas (Edson Masson), o Robson Batuta (cavaquinho), os bateristas e cantores Nenê Timbatera (Danilo Martineli) e Edson Mariano, o Chico da Cuíca e do Pandeiro (Francisco Janavicius) e, também, o excepcional Gó do Trombone. Em cada apresentação Mimi Boêmio sempre abria espaço para as “canjas” de inúmeros cantores e instrumentistas que o prestigiavam onde quer que se apresentasse. Mimi era assim: Amor incondicional pela música, nos últimos anos se apresentava em média três vezes por semana, nas horas vagas ainda ia aos Bares Temáticos prestigiar as apresentações de outros músicos, sendo sempre muito bem recebido e aplaudido. E nas segundas-feiras não faltava nos ensaios do Coral do Instituto Acqua de Santo André, sob a regência da maestrina Paola Fachinelli.

Embora cordial, amável, Mimi não tolerava abusos, não admitia que seus músicos e acompanhantes se atrasassem ou tivessem comportamentos inadequados Ele reprimia no ato, discretamente, sem alarde. Quem o conhecia bem sabia, pelo seu olhar, se algum músico errasse uma nota ou se alguém na plateia se excedesse. Eu tive o privilégio de acompanhar a maioria das apresentações do saudoso Mimi Boêmio nos seus últimos 3 anos de vida, juntamente com as cantoras Dona Eurídes Macedo e Soninha Santos, que eram as “convidadas especiais” em suas apresentações, notadamente na tradicional Esquina do Choro / Bar do Chorinho (Av. Firestone, Santo André), no Boteco Adoniran SBC Av. Kennedy), no Ferradura Bar SBC e no Boteco 5 Esquinas de Santo André, além das inúmeras apresentações em festas familiares e de empresas.

Ao Mestre Mimi Boêmio, com carinho, minha eterna consideração, aos familiares e amigos queridos meus mais profundos sentimentos.

(*) Mimi Boêmio faleceu aos 84 anos em 3 de dezembro de 2020, em São Caetano do Sul, estava internado devido complicações durante o tratamento do Covid-19. Era casado com Irene Negrisão e tinha um filho, Marco Aurélio. Foi sepultado no Cemitério Nossa Senhora do Carmo – V. Curuçá, Santo André. Os amigos músicos e admiradores fizeram contatos com vereadores e prefeito, sugerindo homenagens póstumas (nome de logradouro público, concessão do título Cidadão Emérito).

(Juares de Marcos Jardim – O Sacy Pererê do Grande ABC – Historiador, músico diletante, Web Repórter ABCD Rádio Livre).

Dezembro de 2020.

Juares de Marcos Jardim
Enviado por Juares de Marcos Jardim em 14/01/2022
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