ESCOLA MUNICIPAL SALVADOR CORREIA DE OLIVEIRA

A Escola Municipal Salvador Correia de Oliveira, Anos Finais do Ensino Fundamental, está localizada no Povoado de Lagoa das Pedras, a 25 km da sede do município de Monte Santo, pertence às escolas da Região Administrativa, (RA-II), Polo Genipapo de Baixo – denominada assim, a partir do Decreto Nº 117/2019, de 27 de fevereiro de 2019, conhecida anteriormente como Polo das Areias. A referida escola foi instituída a partir do decreto nº 549, em conformidade com a Lei Orgânica do Município, e considerando o disposto no inciso I, artigo 11 da Lei Nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, nos termos da leis nº 11/144/2005 e nº 11.274/2006.

O município Monte Santo por ser um município com população predominantemente rural, organizou seus povoados e fazendas em 09 Regiões Administrativas (RA), que servem de parâmetro para as ações das Secretarias. Em âmbito educacional, essa demarcação constitui-se em Polos para planejamento e organização das itinerâncias políticas e educacionais do município.

A instituição recebeu esse nome em homenagem a um antigo morador (in memoriam), Salvador Correia de Oliveira, conhecido como Dodô. Ele era comerciante, sua esposa, professora, dona Ermelina Evangelista Oliveira de Andrade. Em entrevista (informal) a Cleonice Evangelista, quarta filha do casal, foi perguntado por que a referida escola não recebeu o nome da mãe Ermelina, visto que ela era a professora e não seu pai, como já informado, era um comerciante e não possuía vínculo diretamente com a escola. O motivo foi que, o filho sendo vice-prefeito na atual gestão de fundação da escola deu o nome do pai à referida instituição para homenageá-lo, sendo que o nome de sua mãe já teria sido homenageado em uma das salas da Escola São Pedro, onde funciona a Educação Infantil e Ensino Fundamental - Anos Iniciais.

A escola funciona no período vespertino com turmas do 6º ao 9º ano, do curso regular e atende a um total aproximado de 120 alunos (dados 2021), oriundos de vários povoados e fazendas do mesmo município. Provenientes de famílias com renda média/baixa, sobrevivem do Bolsa Família, aposentadorias, agricultura de subsistência, trabalhos alternativos, domésticos, comércio e serviço público municipal.

O corpo docente é composto por oito (08) professores, qualificados, concursados e possuem graduação, pós-graduação e uma professora com nível de Mestrado, atuando prioritariamente em suas áreas de formação, quando é possível fechar a carga horária, ou se dispõem a lecionar outros componentes mais próximos dos eixos de ensino, haja vista que a escola é de pequeno porte. Já as Atividades complementares (AC) acontecem semanalmente; são momentos individuais e coletivos de planejamentos. A direção da escola é composta por um diretor, uma pessoa de apoio (na coordenação) e uma secretária escolar. O corpo técnico é composto por três servidores/as auxiliares e um porteiro.

Quanto à estrutura física, são quatro salas de aula, um laboratório de informática (não funciona, porque os computadores já chegaram na escola em meados de 2015, sucateados); uma sala de leitura (onde são dispostos os livros em prateleiras) e funciona também como uma sala de vídeo; uma sala de professores; uma sala onde funciona a secretaria e a direção; uma cozinha com dispensa; um almoxarifado; uma cisterna com volume de 52 mil litros; nove banheiros, dois são adaptados para pessoas com necessidades especiais; dispomos também de água encanada, energia elétrica e de uma quadra poliesportiva sem cobertura.

Como já citado, não temos estrutura tecnológica, o laboratório de informática nunca funcionou. Atualmente, a escola dispõe apenas de 02 computadores e 02 notebooks para uso administrativo e pedagógico. A escola foi contemplada com a internet banda larga em fevereiro de 2020, por meio do Programa de Inovação Educação Conectada do Ministério da Educação que tem o objetivo de “apoiar a universalização do acesso à internet de alta velocidade, por via terrestre e satélite, e fomentar o uso de tecnologia digital na Educação Básica” (on-line). Entretanto, a priori, o acesso à internet é disponibilizado apenas para funcionários da escola e equipe pedagógica.

É premente recordar que desde 2010, o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), que objetivava massificar o acesso banda larga à internet até 2014 e promover o crescimento de infraestrutura, não tenha sido fomentado nas escolas públicas até sua vigência em 2016. Mesmo em um período excepcional em que os estudantes, professores, familiares, por motivos alhures a pandemia da COVID-19, nestes dois anos (2020 e 2021), precisaram reconfigurar a escola física às suas casas e ao ciberespaço; não houve investimento massivo para atenuar os prejuízos vivenciados neste período de incerteza e de dor.

Decretadas as medidas de condicionamentos e quarentenas, o município aprovou em agosto de 2020, as aulas remotas a partir da publicação do decreto nº 884/2020 e Parecer CME Nº 001/2020, que definiu orientações sobre o regime especial de atividades escolares não presenciais. Mesmo em meio ao pânico do isolamento, fechamento de fronteiras, sociedade debilitada pela ameaça de um vírus desconhecido, algumas escolas do município, mesmo sem a aquiescência formal da Secretaria Municipal de Educação (SME), retornaram suas atividades de forma assíncrona em meados de junho, após três (03) meses de suspensão das aulas presenciais.

Para as consecuções que atravessam as narrativas ontoepistemólogicas deste cronotopo, acionam memórias, ao mesmo tempo em que nos permite registrar, que a Escola Salvador Correia foi uma das pioneiras a iniciar as atividades remotas servindo de solo para que outras escolas ousassem desbravar outras trilhas para o início das atividades não presenciais. Isso só foi possível por que fomos encorajados/as por algumas famílias e alunos que nos fizeram várias proposições. Recordamos que uma mãe/avó chegou a oferecer folha de ofício para que a escola fizesse impressão de atividades para o neto, ao mesmo tempo em que outras (famílias e alunos) sugeriram aulas pelo WhatsApp.

A gestão escolar e parte do coletivo docente, também mostravam-se desassossegados com o não retorno das aulas, o que reverberou em uma reunião on-line pelo Zoom Cloud Meetings, em meados maio de 2020 e todos decidimos iniciar as atividades pelo aplicativo de mensagem WhatsApp, e para os estudantes que não dispunha de acesso à internet foram enviadas atividades impressas. Neste constructo, registra-se que em 1º de junho a escola deu início às atividades emergenciais.

Com a ascensão da pandemia, as aulas presenciais do ano seguinte, 2021, continuaram pela esfera virtual, assim, no dia 22 de abril após a publicação do Protocolo de retorno às aulas remotas, foram sugeridas Orientações Didático Pedagógicas para as Atividades Escolares, elaboradas pelo Departamento de Políticas Pedagógicas da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Monte Santo, para fins de operacionalização das atividades desenvolvidas durante o ano letivo. Neste diapasão, a Escola Salvador Correia em um consenso entre famílias, professores e gestão escolar decidimos que as atividades seriam mediadas pelo grupo do WhatsApp e pela plataforma Google Meet. Para os estudantes que não dispunham de artefatos tecnológicos e conectividade, foram entregues atividades impressas/domiciliares quinzenalmente. Para isso, foram abertos grupos no WhatsApp por disciplina/professor para momentos assíncronos. Vale ressaltar que também, há um grupo denominado de Colegiado de pais, onde diariamente as famílias são informadas/lembradas sobre a rotina de cada dia, e atividades pertinentes aos desdobramentos das aulas virtuais.

Os desafios, que já eram complexos, se tornaram mais problematizadores, exigindo dos atores educacionais o envolvimento com outros desenhos pedagógicos para os quais, possivelmente, não estavam suficientemente preparados. Nesse sentido, passamos a transitar por uma prática pedagógica que se apresentou de forma híbrida como forma de atender as especificidades, diversidades e singularidades, como condição sine qua non para atenuar as desigualdades sociais evidente entre nosso público discente, especialmente, o público com maior vulnerabilidade socioeconômica.

Especificamente, em Monte Santo foram dois anos lecionados remotamente, dois anos intermináveis que para mais de 50% dos alunos, foram apenas atividades impressas. É aflitivo pensar quanta invasão tivemos, quantos estudantes isolados socialmente pelas condições socioeconômicas, desconectados, invisibilizados - sujeitos ausentes devido a desigualdade social - relação de poder, parafraseando Boaventura de Sousa Santos (2019).

Por meio de uma pesquisa realizada pelo Instituto Península (2020) neste contexto pandêmico, ficou visível que 83% dos professores não se sentiam preparados para dar aulas on-line. A pesquisa avaliou respostas de quase oito mil professores de todo país entre abril e maio de 2020 e, as informações mostraram também, que muitos professores não tinham nenhuma experiência com essa modalidade de ensino. Embora, vários desdobramentos de cunho biológico, social e educacional tenham sido feitos para combater o inimigo invisível, não podemos desconsiderar o trabalho heroico dos profissionais do magistério, as reinvenções repentinas, as transposições do impresso ao digital, as multitelas, horários chocados pelas multiatividades em redes que nos geram processos exaustivos, cansaços, problemas psicossomáticos, invasão de nossas privacidades em home office etc.

Isso nos faz refletir como o coletivo das escolas, diante de um cenário de instabilidade, precisou ressignificar-se, de modo emergente, buscando outras formas e alternativas aligeiradas para o processo de ensino, instituídos pelas aulas não presenciais. Já as famílias afetadas, tiveram suas rotinas alteradas e suas casas se tornaram a própria sala de aula, pois a escola física/prédio, espaço socialmente instituído à tarefa de ensinar, estava fria, vazia e já não podia ser espaço para as atividades estudantis. Desse modo, compreendemos que as escolas enquanto instância educativa, continuaram seu modo organizacional no ciberespaço.

OBRAS CONSULTADAS:

INSTITUTO PENÍNSULA. Pesquisa de sentimento e percepção dos professores brasileiros nos diferentes estágios do Corona vírus no Brasil. Disponível em: https://www.institutopeninsula.org.br/emquarentena-83-dos-professores-ainda-se-sentem-despreparados-para-ensino-virtual/ 2020. Acesso 15 jan. 2022.

MONTE SANTO, Referencial Curricular – RCMS: Educação Infantil e Ensino Fundamental, 2020. Disponível em: https://sai.io.org.br/Handler.ashx?f=diario&query=2096&c=519&m=0. Acesso: Acesso em: 15 jan. 2022.

MONTE SANTO. Decreto n° 117/2019 de 27 de fevereiro de 2019. Cria e delimita as regiões administrativas do município de Monte Santo. Disponível em: <http://montesanto.ba.io.org.br/diarioOficial/download/519/1275/0>. Acesso em: 15 jan. 2022.

SANTOS, Boaventura S. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina, abr. 2020.

SANTOS, Boaventura S. O Fim do Império Cognitivo: a afirmação das epistemologias do Sul. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

SILVA, Maria Jeane S. J. (et al.) O ciberespaço e a ubiquidade da comunicação em tempos pandêmicos: escuta aos estudantes por meio de entrevista episódica. Revista EducaOnline, vol. 16, nº 1, 2022. Disponível em: https://revistaeducaonline.eba.ufrj.br/edi%C3%A7%C3%B5es-anteriores/2022-1.