BIOGRAFIA RICARDO FONTOURA - O TREM PARTIU E RICARDO FICOU

Ricardo e Myrinha não perdia uma oportunidade de viajar. Seja com grupo de casais amigos, em família e até só os dois, aquela viagem de casal mesmo. A Argentina sempre esteve nesses roteiros, com sua culinária maravilhosa, sua música arrebatadora, sua arquitetura europeia e, principalmente, seu chame clássico.

Numa dessas viagens, Ricardo se locomovia com o auxílio de uma bengala. Andava com muita dificuldade, mas andava. Passos lentos e sempre apoiados com a bengala.

Após curtir alguns dos points turísticos de Buenos Aires, o casal resolveu fazer um passeio até a simpática cidadezinha de San Isidro. Localizado a poucos quilômetros da capital, o local é um roteiro mais romântico, com suas casas lindas, ruas muito arborizadas e uma catedral bem alta e que é um colírio para os olhos e para a alma.

Era preciso pegar o trem “De La Costa” para chegar até a cidadezinha. Compraram o bilhete na estação, bastante empolgados com o passeio. Mãos dadas. Aquele clima romântico, ajudado pelo frio portenho.

Quando o trem se aproximou da estação, Myrinha e Ricardo notaram que ele estava cheio. Seria difícil conseguir dois lugares para sentar. Ricardo não conseguiria fazer o trajeto de pé. Myrinha bolou uma estratégia e seguiu à risca: entrou correndo no trem quando as portas se abriram. Sentou numa cadeira, para garantir o lugar para Ricardo. O povo querendo a cadeira a todo custo: “No, para mi marido”, dizia ela, enérgica. Na confusão de sentar e segurar o lugar ao lado, o trem partiu e Ricardo não conseguiu embarcar. Ficou sozinho do lado de fora, na estação. Myrinha com seus dois lugares seguiu viagem. Os passageiros riram da situação. Ela segurou a cadeira, mas esqueceu do marido. Gargalhadas em todo o trem.

Myrinha não achou a cena muito engraçada na hora. Mas também não entrou em desespero. Era preciso pensar de forma lógica para solucionar o problema. Ela raciocinou o seguinte: se o Ricardo conseguisse andar grandes distâncias, era parar na próxima estação e esperar por ele lá. Ela afastou essa hipótese e focou na opção de que ele ficaria sentado, onde foi deixado, e iria esperar por ela.

Ricardo era engenheiro em todas as situações da vida. Tinha o pensamento lógico e uma forma de resolver as situações complicadas utilizando-se dessa ferramenta. Ele também apostou que era melhor ficar parado e esperar que Myrinha retornasse e fosse ao seu encontro.

Myrinha seguiu sentada no trem, tranquilamente. Desceu na próxima estação. Esperou alguns minutos e tomou o trem que fazia a direção oposta. Parou na estação que tinha embarcado inicialmente. Ricardo estava lá, sentado lhe esperando, como ela julgou que estaria. Ela tinha vindo lhe buscar, como ele julgaria que viria.

Era um casal que acima de tudo se conhecia. Um imaginava os passos do outro. Sabiam cuidar um do outro e tinham uma sintonia muito apurada. Não conseguiam evitar todos os problemas, mas sabiam encontrar a solução juntos.

Sem pestanejar, esperaram o próximo trem com destino a San Isidro e conseguiram entrar juntos. Não iriam perder por nada aquele passeio. O assunto no caminho, claro, não poderia ser outro: separados por um trem.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 18/05/2022
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