UMA NOITE DE EMOÇÃO

Na minha tenra idade, lembro minha mãe, toda agitada a nos arrumar e pegando outras coisitas para irmos a igreja no culto do domingo. Minha mãe era do coral central da igreja; cantava muito bem o contrauto enquanto nós iamos a classe dominical para ouvirmos as histórias dos valentes heróis escolhidos por Deus. O culto fazia cinco horas sem contar as reuniões em que minha mãe estava constantemente…

Quando chegavamos em casa, a primeira coisa que faziamos era retirar as roupas que, na óptica da minha mãe, eram de ocaciões especiais e nos obrigava a colocarmos roupas velhas para se lambusarmos até ao final do dia. Aquilo passou a ser uma rotina pois quando saíamos da escola também tinhamos esta mesma obrigação, caso não obedeciamos —, era purrada, espancamento grave que se a mecha de bater o funji não partir, ou então, não sangrarmos, o espancamento não acabava. Foi assim que fui educada. Escola, igreja e casa; pão e pau. Minha mãe sempre primou em suas regras absurdas que por um lado me transformou numa menina com escolhas coesivas.

A madrugada fria e silenciosa estava dando seu adeus. Os barrulhos das falas de gentes que estavam passando para irem aos seus locais de serviços e, não só, tiravam o sossego de alguns como no meu caso que estava a terminar o sono; naquela altura o luando me dava um conforto de arrepiar. Os olhos voltados as chapas de zinco, a mão esquerda dando comuchão que, para alguns, é sinónimo de prosperidade num curto tempo enquanto para mim, era mais um ouvir e dizer. O lençol cheio de remendos cubria meus peitos pequenos até os meus pés. A rádio simba por cima do armário, meu irmão sintonisava o programa de pregação matinal.

Eu por ser mulher durmia um pouco mais afastada dos meus irmãos pois que meu pai dizia sempre isso quando chagava a hora de desarrumarmos as coisas da sala a fim de estendermos nossos luandos. Mas ainda sim, gostava de me aproximar deles porque eles me faziam sorrir bastante com as histórias distorcidas que eles enventavam; faziam belíssimas imitações das vozes de muitos vizinhos, professores e de alguns familiares.

A rua nunca foi tão especial para mim devido as brigas que têm acontecido dia após dias. Não importa se és apenas um nomada, a qualquer altura o conflito chega mesmo até você. Por outro lado, achava que ninguém estava perante o meu nível. Isso porque sou responsável demais, cautelosa com meus atos, inteligente e sempre com as melhores notas da turma e, por vezes, da escola inteira. Ainda não vi ninguém capaz de me superar… todos estão abaixo da minha dose de morfina.

Eu sei que muitos têm me criticado e me chamando de arrogante pelo meu comportamento, mas para mim… cada um faz sua escolha.

— Sabias que um homem rejeitado é mais perigoso que a primeira guerra mundial? — Ouvi algures ao sair da escola. Se era verdade, não tenho como confirmar. — Todo homem que ouve um não quando pede namoro fica com uma tristeza tão profunda que parece que o monte mais alto do mundo, Evereste, vai desmoronar em um minuto. — Escutei também que nem toda mulher que rejeita um homem tem namorado. — Não! Pelo contrário, algumas fazem isso para testar o quanto estás interessado…

Sempre será difícil entenderes os meus motivos. Por mais gostoso que foi nossa relação, mas não é do jeito que acabam as coisas… julgar alguém pelas suas atitudes é que todos sabemos fazer, o que não sabemos fazer, é entender em que posição a outra pessoa se encontra neste momento.

Procurar vários motivos para explicarmos um assunto é que todos sabemos fazer. Desde o dia do nosso primeiro beijo as intenções sempre foram as mesmas e nada mudou em mim. Talvez em sua mente colocaste muito sentimento enquanto eu nem tanto.

Não sei porque senti saudades tuas quando precisava de conforto; foi meu pior erro porque foi ali em que conheci seus lábios, fechei os olhos e me estiquei até seu rosto esbelto. Hoje me arrependo por eu ter feito aquele jeito.

Não é que eu não te gosto. As coisas não são como pensamos em todos momentos das nossas vidas; somente a dor e a tristeza estarão a criar um tormento na alma.

As pessoas podem te falar mal pelo teu ato, mas jamais eles vão entender quais foram os seus instantes felizes e de tormento…

O ser que criou o mundo fez bem de colocar passado, presente e futuro; passado como uma lembrança, presente como uma realidade ou momento para tudo que é necessário e futuro como uma imaginação das coisas… se ele podia criar ou dar a liberdade de voltar atrás e recuar o tempo, tudo estaria distorcido porque todos podiam fazer o que lhes apetece.

O mundo foi criado numa época em que as estações climáticas não existiam, quando não haviam colheitas para se fazer, quando a astronomia não passava pela curiosidade do homem primitivo.

Tem gente que sente prazer em estar com a família e amigos; viajar, praticar ou acompanhar esportes, se exercitar, comer… eu tenho prazer de fazer tudo isso. Mas também em ler, escrever, me sentindo a participar dos enredos em que mergulho, conhecer os personagens que me fascinam, deletar-me com o estilo dos escritores que me caem em minhas mãos sobre existência, vida, pessoas, principalmente sobre mim mesma, que, como, em um espelho me vejo, refletindo em obras fenomenais que tanto em ensinam como me fascinam, nestes labirintos, advinhações, surpresas, assombros e tesouros escondidos que é a morte.

− Conversas constantes criam sentimentos. Nunca tiramos selfes juntos nem nos mandamos cartas, não temos uma música nossa para lembrarmos um do outro…

Orlando Esquizofrênico
Enviado por Orlando Esquizofrênico em 30/03/2025
Reeditado em 31/03/2025
Código do texto: T8297784
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