A Infância em Camapuã

Marcos Barbosa

Não sei como começar a contar minha vida. Acho que não é fácil escrever uma autobiografia. Começo pela lembrança mais antiga que eu tenho desta vida? Ou falando da cidade onde nasci? Vou começar pela lembrança.

— Mãe, a senhora se lembra de um aniversário meu, quando eu ainda era criança de colo e as moças ficavam me disputando? Eu me lembro daquela festa bonita, daquela mesa grande, do bancão de ripas na área da casa onde o meu pai tocava o "bulicho", armazem. A senhora se lembra daquela filha da dona Zú? Uma moça bonita que mais tarde veio a ser minha professora?

— Mas não é possível, aquele foi o seu aniversário de um ano!

— Devia ser mesmo, porque eu era levinho e as meninas me tomavam das mãos uma da outra com uma facilidade tremenda. Me lembro das pessoas comendo bolo e tomando guaraná. A festa toda ficou levemente registrada em minha memória, mas a parte mais emocionante, que era a alegria das meninas que conseguiam me pegar, desta sempre me recordo com detalhes até dos elogios, tipo " que menino lindo ! "ou "Ai que gracinha ! "etc.

Cresci num ambiente de muito fanatismo religioso. Minha mãe era da Igreja Batista. Ia todos os domingos pela manhã à Escola Dominical. Sentia medo da Igreja católica, até mais ou menos os 10 anos de idade. A pregação do Pastor Manhães contra a idolatria era aterrorizante e deixava na mente dos fiéis e principalmente das crianças uma imagem muito negativa da Santa Igreja Católica. A impressão que ficava em minha mente infantil era a de que ali reinava o Satanás e aqueles ídolos eram os demônios. Nos anos 50 e 60 os templos católicos ainda eram cheios de imagens de san-tos. Em Camapuã a situação não era diferente de outras cidades de Mato Grosso. A única igreja católica que tínhamos lá, me botava medo.

A primeira vez que eu botei meus pés dentro de uma Igreja Católica foi no casamento de meu irmão mais velho, por parte de pai, o Marcílio. Fui, mas contrariado, porque na verdade eu queria que o casamento do meu irmão fosse na minha igreja, mas como ele e a noiva eram católicos, não houve outro meio e a presença de toda a família era até uma questão de honra. A minha mãe foi se aconselhar com o pastor.

— Irmã Amélia, a senhora e seus filhos não se ajoelhem diante dos ídolos. Nem acompanhem as rezas.

Não me lembro bem a ordem que muitas coisas aconteceram em minha infância. Fiz tudo que tinha direito como criança. Peguei sarampo, desobedeci as recomendações de minha mãe e enfiei as mãos numa bacia de água da chuva. Já devia ter de dois a três anos de idade, mas a curiosidade foi maior e paguei caro pela desobediência, porque o sarampo "recolheu". Meu corpo ficou todo coberto de feridas, até dentro da boca estouravam aquelas bolhas doloridas. Doía o corpo todo e não tinha forças para nada. Minha comida era papinha ou bananas amassadas com um garfo. Recebia tudo na boca, pelas carinhosas mãos de minha mãe .

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