Despedida de um cativo

Fui prisioneiro. Estava prisioneiro em seus braços, sendo cuidado com extremo interesse, todas as suas atenções eram para mim.

Você se deliciava com as doces canções que diariamente entoava, em seguidos trinados ou silvos agudos; você parava tudo o que fazia e embevecida com minhas melodias, relembrava o seu passado, do qual nunca me falou, mas que, imaginava ser de tristeza, a julgar pelas lágrimas que furtivamente brotavam dos seus meigos olhos.

Você se sensibilizava com as canções provocadas por minhas saudades, saudades dos tempos que voava em campos abertos, quando em multidão fazíamos tremenda algazarra, Outras ocasiões, invadíamos o milharal que principiava a apresentar os primeiros frutos.

Fui sua companhia durante anos seguidos, e confesso nada me faltou, nunca desejei algo que pudesse satisfazer minha natureza, exceto a minha liberdade. Durante o tempo que passamos juntos, ouvi das pessoas próximas a você questionamentos sobre a minha liberdade; a todos era apresentado o argumento, que eu não saberia enfrentar o mundo lá fora, escapar dos perigos que espreitavam em cada esquina, à espera da próxima vítima.

Mas, afirmo-lhe que vim da natureza, sou dela, não para viver cativo. Desculpe, se a faço chorar com minha ausência. Procure compreender que busco o que você também busca: a liberdade. Não se trata de ingratidão, agradeço todo o carinho e amor durante estes anos, mas precisava sentir novamente o vento a refrescar-me o rosto, pousar na mais alta árvore, reunir-me com meus irmãos na alvorada e no crepúsculo, para levarmos ao Criador nossos agradecimentos diários pela vida.

Acaso sinta saudades de mim, vá ao parque mais próximo onde ouvirá novamente as belas canções que me deu o Criador.