A uma orientanda*

Orientanda*,

eu não queria viajar sem antes dizer algumas coisas que não foi possível dizer hoje à tarde, durante a avaliação do seu TCC. Desejei que essas palavras ficassem registradas como um depoimento ao final de um trabalho entre orientador e orientanda que muito me acrescentou.

Você se dedicou ao estudo sobre a humanização porque, no meu entendimento, esse anseio revela quem você é: alguém disse um dia que “a boca fala do que está cheio o coração”. Humana: essa é sua qualidade fundamental.

Ao executar seu projeto, você me perguntava sobre o método. Eu respondia: o método é você, a própria pesquisadora. Acho que, inicialmente, você não entendeu. Quando seus dados e informações já estavam colhidos e começaram a ser organizados, chegamos ao entendimento de que você deveria prestar atenção à realidade, separando o material que a revelasse aos seus olhos e aos seus ouvidos; que, em seguida, você dispusesse o material que abordasse o conceito de humanização que você estava investigando e, com base nele, refletisse e julgasse aquela realidade vista e ouvida anteriormente; por fim, que você cruzasse esses dados com vistas para a construção de um perfil de profissional humanizado no serviço de prestação de cuidados em saúde, de maneira a apontar caminhos para a decisão sobre o agir.

Resultado: seu trabalho lhe deu o método. Não foi o método que lhe deu um trabalho. E se saiu bem aí: o ser humano não foi feito para o método, mas o método é que foi feito para o ser humano. Mais: você não confundiu procedimentos de colheita de dados com método, nem se impôs um método como camisa-de-força. Veja: método é caminho. Se você escolhe um caminho, que algo de novo encontrará? Talvez, nada! Os grandes feitos em ciência aconteceram porque métodos convencionais foram postos de lado e novos métodos foram feitos à medida que o trabalho científico ia se desenvolvendo. Foi exatamente isso o que você fez.

Por essas coisas você obteve o sucesso merecido. E quando você disse que tinha uma amiga como avaliadora, a platéia chegou a sorrir. Lembra-se? Riram de alegria, por saberem que em nossa academia, povoada por um bando de cérebros ambulantes (muitos de qualidade duvidosa), você ainda tinha alcançado o feito humanizado de se fazer amiga das pessoas – carisma é o nome desse seu feito! Aliás, amizade é uma virtude e um valor que você coloca lá no seu TCC como indispensável ao enfermeiro e à enfermeira. E está coerente: alguém pode prestar cuidados humanizados, sem sentir afeição pelo gênero humano? Sem ser amigo ou amiga das pessoas?

Por essas e muitas outras coisas que já lhe foram ditas, você obteve nota máxima, destaque de mérito acadêmico e indicação para publicação do seu trabalho. Esse resultado, contudo, é público. Ele foi obtido por méritos seus, os quais a banca, soberana, soube captar. Porém, de hoje em diante, o caráter público de seu trabalho o coloca à avaliação de todos quantos se sintam habilitados para julgá-lo. Certamente, se alguém o fizer, reconhecerá que o seu sucesso é merecido.

Como eu já disse, durante a realização do seu TCC, você se impacientou com seu trabalho, ficou ansiosa. Foi quando a vi estressada com a pesquisa, mas, também, quando vi você ir ao lago correr para aliviar a pressão que você se impunha diante de um trabalho acadêmico do qual não podia arredar pé. É verdade: vi você sorrir, e muito, com a sua pesquisa, mas, por outro lado, também vi você chorar ao desenvolver sua investigação. Sobre isso, você me deu a oportunidade de protagonizar, como professor, uma cena que, creio, poucos docentes tiveram o privilégio de viver: oferecer-lhe o lenço. O lenço. Só o lenço. Nem palavra, nem nada. O lenço! Esse é aquele tipo de imagem que nunca sairá da minha memória, sobretudo pelo caráter pedagógico que ela comporta.

Por todas essas coisas, registro aqui os meus parabéns. Obrigado pelo privilégio de ser considerado seu amigo ao final do percurso acadêmico. Desejo-lhe sucesso, luz e paz.

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*Identidade preservada por questões óbvias.

Do meu blog FiloEducação

=> http://filoeducacao.blogspot.com/

20.Dez.2007.