O Valor de uma carta

Por vezes queremos dizer algo a alguém e servimo-nos do telemóvel, do telefone,porque é muito mais prático, dizemo-lo a(de) boca cheia! Contudo, esquecemo-nos da carta, veículo de comunicação que actualmente anda em desuso, infelizmente!Tenho saudades do tempo em que escrevinhávamos uma carta ao namorado que estava no Ultramar e falávamos do futuro...tenho saudades da carta do "menino de sua mãe" que aí se encontrava a guerrear e contava em pormenores a sua odisseia.E que sentimentos ali se concentravam!Faziam chorar as pedras e não tinham nada de piegas, garanto-vos!Tenho saudades do tempo em que a carta era a esperança infíma da mulher casada, da viúva, da mãe desatinada,do pai velhinho que imaginava histórias e depois as contava na tasca da redondeza!Tenho saudades do tempo em que eles iam ganhar a vida para o estrangeiro e utilizavam a carta para fazerem jus ao seu acto heroicizante, onde a saudade era o sentimento que mais prevalecia, sem sequer poder-se traduzir!

Uma carta podia fazer muita gente feliz...lembro-me desse tempo...claro que havia as notícias infelizes...agora então elas chegam na hora, sem darem tempo para respirarmos, prepararmo-nos para o inevitável!Antigamente demoravam o tempo necessário para acolhermos a notícia com verticalidade e humanismo.Agora, numa mensagem amamo-nos, noutra odiámo-nos, numa vivemos, noutra morremos, mais rápido que o tempo.Qualquer dia chega primeiro a notícia do que o acontecimento...intuição, boato?Dizem que é o progresso!Tenho receio da cinza definitiva da carta, confesso...Camões já nos dizia:"mudam-se os tempos/mudam-se as vontades"e só estavamos no século XVI!

Escrevinhem cartas e vejam o quão elas nos fazem felizes...podemos beijá-las, guardá-las, amarecê-las...verão como o seu teor permanecerá "ad eternum"com todo o rigor da sinestesia!

Harmoniae
Enviado por Harmoniae em 19/05/2005
Código do texto: T18004