Lembranças

Ser fiel consigo mesmo e usar de coerência com suas idéias não é algo fácil.

Provoca, desestabiliza, faz sofrer.

Também não é tarefa fácil para o outro lado, que nem sempre está pronto para aceitar a autenticidade e espontaneidade que a situação provoca.

Tenho carregado comigo algumas perdas por ser assim.

Lembro-me de minha mãe dizendo que deveria ser menos “atrevida” e não me colocar como sou.

Segundo ela isso me provocaria alguns dissabores.

Pois é mama...

Desta vez não concordo com você.

Aliás, até por que sou assim e se o fizesse entraria em desacordo com minha força organísmica.

Adoeceria...

Adoeceria do corpo e da alma.

Confesso que já tentei...

Mas honestamente não foi o melhor para mim: adoeci realmente e fiquei infeliz.

Então prefiro enfrentar as perdas necessárias.

Elas, com certeza, também provocarão outras pessoas, sei!

Mas quem sabe também será bom para elas?

Pode ser um novo caminho, não é?

Entendo sua preocupação com a minha forma de interagir com o mundo.

Na verdade foi a forma que encontrou de tentar me proteger.

Lembra-se?

Nunca gostei muito de proteção não!

Sempre reagi, apesar de compreendê-la no seu amor maternal.

Com minha filha tomei alguns cuidados.

Errei, acertei.

Dei-lhe todo meu amor, sem protegê-la excessivamente.

Apenas o necessário.

Hoje, particularmente e já na meia idade, penso em você e na educação recebida.

Com certeza levaria alguns puxões de orelha pelo que vivo no meu momento atual.

Você sempre tentou me enquadrar às regras convencionais.

Não conseguiu e também não deixou de me amar por isso.

Você partiu faz tanto tempo!

Imagine só se eu tivesse seguido esse seu conselho!

Não teria sido a guerreira que fui.

Seria muito mais frágil.

Então, mama...

Sei que me acompanha de onde estiver.

Naturalmente e apesar de, concorda comigo.

Estou saudosa de você

Sua voz, seus gestos, seu cheiro.

Quero agradecer-lhe por ter me aceitado, mesmo sem concordar comigo.

Com amor...

(para minha mama que partiu muito cedo)

(Final do ano de 2009)