À Maria Luísa, minha filha

Rio de Janeiro, 8 de março de 2005.

Amada filha,

Prazer em receber-te. Que presente nos dá esse bom Deus que, no papai, vive assim ausente! Logo eu que sou tão cético sobre o porquê de estar aqui! Que satisfação maior posso conceder-me, senão essa de sentir-te a brincar no ventre de tua mãe!

Ah minha Luísa, tua mãe é sim uma deusa. Não acredite quando te disserem que os deuses não vivem entre nós; eles não só vivem, como fazem parte de nossos dias, são a essência de nossas vidas. Principalmente tua deusa-mater que te recebeu em dádiva e te amamenta com imenso prazer, mesmo sem conhecer-te o rosto, tocar-te os cabelos, sentir o olhar do amor, que, certamente, tu demonstras em teu mundo aquoso e ora solitário. Tua mãe deve ser amada, idolatrada, acalentada como a sublime criatura que te deu feição, como eu faço todos os dias da minha vida: amá-la mais e mais a cada novo amanhecer.

Ah Maria, tens os nomes das vitoriosas mulheres que se resignam e vivem para amar, ainda que não conheçam um horizonte mais distante do que o brilho do olhar de um ente amado. A ti, eu te peço: nunca te envergonhes de teu nome, tu cometerias a injustiça de não reconhecer a virtude em forma de homenagem.

Sinto-me honrado de ser teu pai. Perdoa-me: PAI, assim mesmo, grande como é o meu amor por ti e por tua mãe. Despeço-me com um poema que representa a síntese do que vejo em ti, minha filhinha:

O vento me trouxe, Luísa,

O sonho de ser teu pai;

Se a noite parecer vazia,

É só mais um dia que vai!

Frescor que renasce na brisa,

Soprado com fome de amor;

Desculpa se choro, Luísa,

Não é de tristeza ou de dor!

Se um dia o sol for ausente,

No pranto que um canto eterniza;

A lua será teu presente,

Amada, Maria Luisa!

Nelson Maia Schocair (Nel de Moraes)