Prezado Robério Matos:

Inicio questionando o "Prezado", pois não sei se o prezo, ou se, ao menos, nutro alguma simpatia por você.
Lembra há quanto tempo você vem fazendo-me promessas? Assumindo compromissos que, de cara, sabia ser incapaz de executá-los, de startá-los, sequer?

Quantas vezes o tenho motivado a ser "mais leve"; a ser menos rigoroso e exigente consigo próprio. A deixar a vida fluir pelas suas correntezas e rumos naturais, sem para tanto ser preciso agarrar-se a um tronco que se encontra à deriva e no qual se apóia para emegir-se, em lugar de asfixiar-se sob o manto das águas turvas e, assim, consumir-se, apartando-se dessa vida que, não raro, a amaldiçoa?

Ouço, pacientemente, suas amarguras e queixas infundadas, como se fosse o mais infeliz dos seres que pululam sobre a crosta terrestre! Tudo, para você, meu amigo (ou inimigo, se assim lhe soar melhor!), deve ser realizado, concretizado no agora! E pior: sem mácula, sem falhas! Faça como sugere a escritora Barry Stevens: Não apresse o rio, ele corre sozinho...

O quê!? Não ouvi. Fale naturalmente: sem murmúrios... Chega de auto-piedade! De lamentos que transcendem a minha compreensão. Ah...O seu Eu foi forjado ou moldado ao longo de décadas de sentenças morais, ou sapienciais? Quer, com isso, justificar o seu perfeccionismo...Não! meu caro: ponha a sua carapuça e, de outro lado, dispa-se dos eufemismos. Seja autêntico! Saiba que algo em torno de 70% da humanidade padece de carências que estão a abarrotar o seu alforje!

E lembre-se, por fim: Antes assumir e administrar os seus problemas - que já são velhos conhecidos... - que se aventurar na busca de unções desconhecidas e, nalgumas vezes, inadequadas para si, tendo presente a velha máxima: "O problema não é o problema, mas a maneira que o encaramos".

Fico no aguardo de suas considerações, ou do seu funeral, se assim o preferir...

"Clonalmente",

Robério Matos